Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais
De Schröderstrasse a Schroeder: um capítulo através de fragmentos de memória e história teuto-brasileira
Schroeder fazia parte do Domínio Dona Francisca. A localização estratégica dessa região atraiu europeus em busca de novas oportunidades
01/10/2024
Este trabalho convida o leitor a uma viagem no tempo e no espaço, explorando as transformações de uma comunidade teuto-brasileira no Vale do Itapocu. Através de fragmentos de memória e da análise de registros históricos, acompanhamos a evolução da Schröderstrasse, uma estrada no passado que simboliza a presença alemã na região, e como seu nome, Schroeder, se tornou parte intrínseca da identidade local.
Ademir Pfiffer, em seu livro “De Schröderstrasse a Schroeder”, nos oferece uma rica base para aprofundar o conhecimento sobre a história do município de Schroeder, localizado no Vale do Itapocu. Essa obra explora as complexas relações entre a colonização, a cultura indígena e a questão ambiental na região. Ao analisar novas fontes e perspectivas, é possível construir uma narrativa mais completa e abrangente sobre a formação desse município.
No século XIX, o território que hoje abriga Schroeder fazia parte do Domínio Dona Francisca. A localização estratégica dessa região, no Vale do Itapocu, e a definição de seus limites geográficos pela Lei nº 166/1840 atraíram europeus em busca de novas oportunidades. Esse processo desencadeou a ocupação e colonização da região, culminando na criação do município de Schroeder em 1964.
Antes da chegada dos colonizadores europeus, a região era habitada pelos indígenas Xokleng, também conhecidos como botocudos. Esses povos viviam como caçadores e coletores, adaptando-se à vida nômade na região.
Os botocudos habitaram por milênios parte do território catarinense, deixando como vestígios pontas de flecha e ferramentas de pedra. Essa população, caracterizada por seu modo de vida nômade, percorreu extensas áreas, incluindo o Vale do Itajaí e, consequentemente, o território onde hoje se localiza Schroeder. Embora seu modo de vida itinerante dificulte a identificação de assentamentos fixos, a presença botocudo nesses locais deixou marcas significativas na paisagem e na memória cultural da região.
A presença indígena no território onde hoje se localiza Schroeder é corroborada por diversos artefatos líticos, como pontas de flecha e ferramentas, encontrados em sítios arqueológicos da região. Esses achados, frequentemente associados às tradições Botocudo e Xokleng, encontram respaldo em relatos históricos de viajantes como o padre Manuel Ayres de Cazal. A coleção de peças líticas de Francisco Ronchi e Candido Walz, proveniente de Rancho Bom/Duas Mamas, e datada da tradição Botocudo/Xokleng, constitui um importante acervo para o estudo da ocupação indígena dessa área.
Há indícios de que esses artefatos foram encontrados na bacia hidrográfica do Rio Braço do Sul, corroborando relatos orais como o de Dona Loni Pommerening (in memoriam), que mencionava a presença de indígenas na região até o final da década de 1920. Aliás, relatos históricos e arqueológicos apontam para a ocupação indígena contínua nessa área por um longo período, com a ocorrência de aldeamentos, especialmente no Vale do Itajaí, após esse período.
A chegada dos colonizadores europeus, no entanto, impactou drasticamente a vida dos indígenas, que foram expulsos de suas terras e sofreram perseguição.
Essa sequência de fatos sugere uma relação direta entre o acervo de artefatos líticos e a presença de povos indígenas na região.
A região de Schroeder, antes da intensa exploração europeia, era um refúgio de rica biodiversidade, abrigando diversas espécies de plantas, como canela, ipê e jacarandá, e animais como anta, veado e inúmeras aves.
A partir do século XIX, a busca por recursos naturais e terras férteis impulsionou a exploração da região, causando um profundo impacto ambiental. A Mata Atlântica, que outrora cobria vastas áreas, foi drasticamente reduzida, e a fauna local sofreu declínio.
Os povos indígenas passantes, como os Xokleng, que habitavam temporariamente o território de “Schröderstrasse” há milênios, foram vítimas desse processo, sofrendo genocídio e expulsão de suas terras. A chegada dos europeus gerou um conflito cultural que resultou em violência e destruição.
O legado desse período é marcado pela degradação ambiental e pela perda de um patrimônio cultural incalculável. Atualmente, a necessidade de preservar o que restou da Mata Atlântica e de valorizar a cultura dos povos indígenas torna-se cada vez mais desafiadora, dado que há um processo de apagamento de memórias.
A jornada da Schröderstrasse, desde sua fundação até os dias atuais, é um testemunho da resiliência e da capacidade de adaptação da comunidade teuto-brasileira do Vale do Itapocu. Através de fragmentos de memória e registros históricos, buscamos desvendar as camadas de significado que se acumularam ao longo dos anos, revelando a riqueza e a complexidade de uma história que continua a ser escrita.
A preservação da memória e da identidade cultural é fundamental para fortalecer os laços comunitários e garantir que as futuras gerações conheçam e valorizem suas raízes. Ao olharmos para o passado, somos inspirados a construir um futuro que honre o legado de nossos antepassados e a celebrar a diversidade cultural que caracteriza a nossa região.
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