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Salão Wagner e a Sociedade Comercial: Refletindo a alma teuto-brasileira de Jacu Açu

SALÃO – Na vastidão das terras brasileiras, é comum encontrar histórias de imigrantes que moldaram a identidade de diversas comunidades. Uma dessas histórias floresce na comunidade rural de Jacu Açu, onde as tradições e valores teuto-brasileiros são cultivados e celebrados até hoje.

Esta rica tapeçaria cultural é, em grande parte, o resultado da integração dos imigrantes da Letônia e dos colonizadores alemães que ali se estabeleceram, fundindo suas tradições com as do solo brasileiro.

Tendo como protagonistas o Salão Wagner e a Sociedade Comercial, instituições que durante décadas abraçaram e propagaram estas tradições, Jacu Açu mantém viva a chama da cultura teuto-brasileira. Em cada celebração, em cada tiro ao alvo, em cada dança e canção, ressoa a história de um povo que, mesmo distante de sua terra natal, encontrou uma nova casa, criando raízes que duram até os dias de hoje.

 

A atual Sociedade Comercial possui raízes profundas e ricas na história cultural da região, sendo a herdeira do legado da antiga Sociedade de Tiro Jacu Açu (Assu), que muitos também conheciam pelo nome de Salão Wagner (Paulo e Afonso, pai e filho). Esta última foi estabelecida há quase um século, em 13 de outubro de 1924 fundada pelos pioneiros, Paulo Wagner, Fritz Krause e Carlos Klitzke. Desde os seus primórdios, ambas as sociedades se destacaram por promover as tradicionais festas de rei e rainha do tiro ao alvo.

 

Foi sob esse espírito de tradição e celebração que, no sábado, 28 de outubro, a partir das 18h, as festividades do schützenverein tiveram lugar. Curiosamente, as cortes de majestades que prestigiaram o evento eram de 2019. Isso porque, nos subsequentes anos de 2020 e 2021, as festividades foram pausadas devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19.

 

Nessa ocasião, as majestades que representavam o tiro ao alvo esportivo incluíam figuras como Euclides Cagnetti, que ostentava o título de rei do 1º Grupo, e Dolores Voelz, a rainha do mesmo grupo. Arlindo Baumann, representado pelo seu neto, e Guilherme Monerich também brilharam como o 1º e 2º príncipes, respectivamente. A corte feminina do 1º Grupo era complementada por Velanda Engelmann e Terezinha Heidner, as primeiras e segundas princesas. 

 

No 2º Grupo, Edemir Stein era o rei, ladeado por Claudio Stein e Tadeu Rodrigues como príncipes. A rainha Adelaide Stein, junto com as princesas Roselene Stein e Anelise Rodrigues, completava a corte. Já o 3º Grupo era liderado pelo rei Alvino Engelmann, com Euclides Cagnetti e Sebastião Fusi como príncipes. Velanda Engelmann reinava como rainha, ao lado das princesas Eli Kath Tbaerh e Roseli Rüdeger.

 

Dentre as figuras de destaque, Euclides Cagnetti emergiu como uma verdadeira celebridade. A sua presença em dois dos grupos das cortes evidenciou sua profunda integração e comprometimento com a cultura do schützenkönig. De origem étnica italiana, Cagnetti tem uma longa história de envolvimento e dedicação aos eventos de salvaguarda do patrimônio cultural do tiro ao alvo, especialmente nos municípios de Guaramirim e Massaranduba.

 

Da mesma forma, também se evidenciaram no evento de sábado, Alvino e Velanda (estava internada em um hospital até a véspera do evento) Engelmann, um casal emblemático no cenário de tiro do Vale do Itapocu, têm deixado sua marca ao longo dos anos com inúmeras conquistas de medalhas e troféus. Destacaram-se especialmente na Sociedade dos Atiradores Catarinenses de Brüderthal, onde sua paixão e habilidade no esporte foram reconhecidas e celebradas.

 

Hoje, não só são lembrados por suas vitórias anteriores, mas também como membros fundadores da Associação Desportiva Atiradores Guaramirim – ADAG. Esta Associação, localizada na estrada centenária de Jacu Açu, está estrategicamente próxima à família Stein, fortalecendo ainda mais os laços e a tradição do tiro na região.

 

O evento foi ainda mais especial devido ao seu local de realização, a Estrada Jacu Açu. Este é um território marcado pela história, tendo sido o local de assentamento fenômeno da imigração da Letônia e palco da colonização alemã e italiana no final do século XIX. O evento contou com a liderança de Edimir Stein, o presidente, com o apoio de Dirce Stein Krüger, a bandeireira, e Vilmar Krüger, o comandante de marcha. E, para abrilhantar, a banda “Musical Estrela de Ouro” proporcionou a trilha sonora, enquanto o sabor ficou por conta da equipe gourmet do “Restaurante e Lanchonete Kemczinski”, situado em Barro Branco.

 

Ao longo das páginas que antecederam, pudemos mergulhar na rica tapeçaria cultural de Jacu Açu, um lugar onde o passado e o presente entrelaçam-se de maneira harmoniosa, dando vida à cultura teuto-brasileira. As tradições do schützenverein, enraizadas nas práticas dos antigos imigrantes germânicos e letões, ressoam hoje como uma melodia que celebra a dualidade e a riqueza da identidade local.

 

É crucial ressaltar a sutileza da distinção entre a origem étnica germânica dos letões e sua nacionalidade da Letônia. Embora etnicamente alinhados aos germânicos, os letões trouxeram consigo peculiaridades, tradições e nuances culturais que eram únicas à sua nação. Esta mescla de influências germânicas e letãs, quando introduzida ao contexto brasileiro de Jacu Açu, resultou em uma cultura vibrante e única.

 

O Salão Wagner e a Sociedade Comercial permanecem como faróis dessa tradição, lembrando à comunidade e aos visitantes a importância de honrar e manter vivas as heranças do passado. Em um mundo em constante mudança e globalização, comunidades como Jacu Açu se destacam como tesouros, onde as raízes do passado são cuidadosamente nutridas e celebradas.

 

Que a história e as tradições de Jacu Açu sirvam de inspiração para todos nós, lembrando-nos da beleza que reside na união de culturas e na celebração das raízes que nos definem. (Ademir Pfiffer – Historiador e Youtuber, para o JDV)

 

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Ademir Pfiffer

Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais

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