Saúde

Novo estudo mostra que a meta da ONU de reduzir a mortalidade por câncer prematuro no Brasil não deve ser atingida até 2030

O Dia Mundial Contra o Câncer é uma iniciativa da Union for International Cancer Control (UICC), que teve origem em 4 de fevereiro de 2000, na Cúpula Mundial Contra o Câncer para o Novo Milênio em Paris

31/01/2023

Os principais objetivos são aumentar a conscientização sobre o câncer, promover a educação sobre o câncer e pressionar governos e indivíduos em todo o mundo a tomar medidas contra a doença.

Câncer é a segunda causa mundial de morte e, segundo o Ministério da Saúde, será a primeira no Brasil a partir de 2030. Em 2020, quase 10 milhões de pessoas morreram como consequência da doença. Esses números devem aumentar para 16,3 milhões até 2040, segundo dados do Observatório Global do Câncer (GCO).

Na esperança de mudar esse cenário, foi incluída nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) a meta 3.4, que sugere uma redução de um terço na mortalidade prematura (30-69 anos) por doenças crônicas não transmissíveis.

 

Brasil

A dúvida é se será possível alcançar esta meta no Brasil. Um estudo publicado no dia 10 de janeiro deste ano na Frontiers in Oncology, avaliou os padrões geográficos e temporais na mortalidade por câncer prematuro no Brasil entre 2001 e 2015 para fazer uma projeção até 2030, a fim de comparar com a meta dos ODS. Segundo os pesquisadores, a previsão é de que, sim, a mortalidade prematura por câncer diminua no Brasil, mas a redução estará longe de atingir o ideal proposto pela ONU.

“Os números de incidência do câncer continuam a crescer, e, tão sério quanto isto, é que também aumentam as desigualdades de quem pode acessar os cuidados adequados para o controle da doença, cenário com aumento significativo nas chances de sobrevivência. A redução de mortalidade já é observada onde o acesso a tratamentos é adequado”, afirma a oncologista Angélica Nogueira Rodrigues.

 

EUA

Nos Estados Unidos, as taxas de mortalidade por câncer caíram em um terço desde 1991, com cerca de 3,8 milhões de mortes evitadas nesse período, de acordo com um estudo publicado no CA: A Cancer Journal for Clinicians, da Sociedade Americana de Câncer, no dia 12 de janeiro. Esse declínio se deve à prevenção, rastreamento, diagnóstico precoce e melhoria no tratamento de tumores comuns, incluindo câncer de pulmão e de mama.

No Brasil o cenário é diferente. Disparidades regionais marcantes e reduções de mortalidade prematura foram principalmente evidentes nas regiões Sul e Sudeste, as regiões mais ricas do Brasil, enquanto o Norte e o Nordeste – menos ricos – mostraram uma mistura de padrões resultando em uma redução mínima perante o desejado.

“O Sudeste provavelmente será a única região a atingir a meta dos ODS da ONU, e isso foi observado apenas para câncer de pulmão em homens”, diz o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas e da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).

“O Brasil tem conseguido reduzir a prevalência do tabagismo por meio de várias políticas públicas, como aumento de preços, leis de áreas livres de tabaco, restrições de marketing, advertências e campanhas de cessação do tabagismo na mídia de massa e acesso a tratamento farmacológico nos serviços públicos de saúde e é provável que isso explique a redução esperada nos cânceres relacionados ao tabaco”, afirma Carlos Gil Ferreira.

As previsões mais favoráveis em homens são esperadas, além do câncer de pulmão, o de estômago, fígado e próstata e em mulheres para cânceres de boca e faringe, esôfago, fígado e colo do útero, mas mesmo para esses cânceres, as reduções projetadas estão muito abaixo de um terço que seria o alvo. O câncer colorretal se destaca, com expectativa de aumento da mortalidade em todas as regiões, tanto em homens quanto em mulheres, com exceção do Sudeste, onde se espera estabilidade.

Entre 2011-2015 e 2026-2030, é projetada uma redução nacional de 12,0% na taxa de mortalidade por idade por câncer prematuro entre os homens e uma redução de 4,6% entre as mulheres. Entre as regiões, houve uma variação de 2,8% entre as mulheres na região Norte a 14,7% entre os homens na região Sul.

 

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