Como negociar com crianças nas tarefas diárias

Negociar com as crianças para que participem das tarefas domésticas, façam o dever de casa ou se comportem de forma mais harmoniosa em casa é um desafio comum para muitos pais. Embora oferecer recompensas possa parecer uma solução fácil, especialistas alertam que essa prática nem sempre é a mais indicada.

Marcos Meier, embaixador da Aprende Brasil Educação, e um dos mais renomados especialistas em educação socioemocional do país, destaca os riscos de premiar as crianças por cumprirem obrigações domésticas.

Segundo ele, isso pode criar uma dependência por recompensas e impedir o desenvolvimento de um senso de responsabilidade e pertencimento à família. “Isso não desenvolve o sentimento de pertencimento à família, nem um sentimento saudável em relação a trabalhar. Então, é um grande malefício, a criança fica sempre dependente de algum tipo de retorno e acaba não incorporando aquela vontade e desejo de progredir, crescer e fazer as coisas cada vez melhor”, alerta Meier.

O que pode ser negociado e o que não deve ser

Embora o diálogo e os combinados sejam fundamentais na dinâmica familiar, algumas tarefas não devem ser negociadas nem recompensadas. Meier explica que tarefas cotidianas como lavar a louça, varrer ou organizar os brinquedos são responsabilidades da criança e não devem ser premiadas. “Podemos elogiar, brincar, dar um abraço, tudo isso serve como incentivo e faz com que ela se sinta pertencente à família. Mas premiar a tarefa, nunca”, detalha.

Entretanto, tarefas que fogem à rotina diária, como ajudar o tio a lavar o carro, podem ser uma exceção. Nesses casos, recompensas podem ser combinadas. “Pode ser em dinheiro, pode ser um passeio, pode ser um brinquedo. Isso precisa ser combinado com a criança. Assim, ela vai entender que aquilo é um extra, não faz parte das tarefas comuns que ela tem”, explica o especialista.

Incentivo sem recompensas materiais

Nem sempre é necessário oferecer uma recompensa física ou simbólica para que as crianças colaborem em casa. O ideal é que elas sintam que participar das atividades familiares é algo natural e desejável. Elogiar o esforço contínuo da criança pode ser uma forma eficaz de incentivo.

“Quando você elogia uma criança por sua beleza ou inteligência, ela entende que essas são características que ela já tem como garantidas. Mas, se você elogia pelo esforço em realizar uma tarefa, então ela entende que será elogiada sempre que se esforçar e sente mais vontade de colaborar”, afirma Meier.

Para os pais, a recomendação é elogiar sempre o esforço, a dedicação e a persistência, além de valorizar os princípios das crianças. Quanto às críticas, Meier sugere que sejam feitas de forma privada e focadas no comportamento, não na personalidade da criança.

“Elas sempre devem ser feitas em particular e sem ofender a criança. Busque criticar o comportamento e não o indivíduo. Não diga coisas como ‘você é relaxado, agressivo ou maldoso’, mas substitua por ‘o quarto que você arrumou ficou muito bagunçado’. Isso é criticar o comportamento, o que preserva a personalidade da criança”, finaliza.

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