Esportes

Futebol: Marta dá adeus à Copa do Mundo como rainha e maior artilheira da história

Ela se despede da seleção brasileira com discurso emocionado: “Eu termino aqui, mas elas continuam”

02/08/2023

Fonte: GE

Seis vezes melhor do mundo. Maior artilheira da Seleção. Aquela que transformou o futebol no Brasil. Transformou o futebol feminino no mundo. A Rainha, mesmo que não se sinta como tal, despede-se da Copa do Mundo por uma última vez.

“Não era nem nos meus piores pesadelos a Copa que eu sonhava, mas é só o começo. O povo brasileiro pedia renovação, está tendo renovação. Eu termino aqui, mas elas continuam”, desabafou Marta, com lágrimas nos olhos, após a eliminação do Brasil.

Marta transformou os gramados em palco. Dançou solitária por anos, aos poucos reunindo súditos e súditas pelo mundo, companheiras dos novos tempos, preenchidas por uma dança que flui em seu próprio ritmo. No ritmo da rainha. Dançada na Austrália pela última vez, após a eliminação do Brasil na fase de grupos, com o empate diante da Jamaica.

Duas décadas e seis Copas do Mundo depois, nem mesmo ela entende o que fez. “Eu não costumo pensar na Marta”, confessou, horas antes do jogo, deixando as lágrimas preencherem os olhos. “Eu não tinha uma ídola no futebol feminino. Vocês (imprensa) não mostravam o futebol feminino. Como eu ia entender que poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência? Hoje a gente sai na rua e os pais falam: minha filha quer ser igual a você.”

Aos 37 anos, a artilheira histórica do Brasil esteve 11 meses se recuperando de um rompimento do ligamento cruzado do joelho e voltou a vestir a camisa da Seleção somente em fevereiro, recuperando-se de forma gradativa até chegar ao mundial na Austrália e Nova Zelândia.

Não à toa, fez dois jogos como reserva, contra Panamá e França, sendo titular somente diante da Jamaica – no último jogo da fase de grupos. Dançou por 83 minutos em campo, mas não conseguiu evitar a despedida. “Eu estive com muitas boas jogadoras e estar ao lado de Marta é história. Eu sabia que ela era grande, claro, mas não sabia o quanto ela representava no Brasil”, disse Pia Sundhage.

Marta elevou o patamar e conquistou reconhecimento pelo futebol feminino no Brasil, mesmo nascida sete anos depois da revogação da lei que, por 38, proibiu o futebol de mulheres no país. Criada pela mãe Tereza Vieira e a avó, cresceu ao lado dos irmãos Ângela, José e Valdir em uma casa com telhado de zinco e cômodos separados por tecidos.

A mãe era zeladora na prefeitura, então Marta viveu na casa da avó. Foi onde, aos seis anos, começou a jogar futebol com os primos. Descalça no chão de terra, sentia o piso quente sob os pés e os olhares de reprovação sob as costas. Só viu a primeira mulher jogadora na televisão aos 10 anos e disse pra mãe: um dia vou estar jogando lá.

Marta, em entrevista coletiva antes de Jamaica x Brasil. | Foto: William West/AFP

Marta estava certa. Se um dia vendeu sacolés, roupas e lavou pratos para juntar dinheiro em busca da primeira oportunidade, hoje o portal de entrada do município onde nasceu tem os dizeres: “Bem-vindo a Dois Riachos, terra da jogadora Marta”.

Única mulher entre os meninos quando mais jovem, Marta saiu de casa aos 14 anos de idade para arriscar uma chance no Vasco. Ali, iniciou também os passos pela seleção brasileira, convocada para a sub-19 e logo em seguida para a principal, atuando pelas duas categorias desde 16 anos.

Em 2003, Marta disputou a Copa pela primeira vez, com três gols e chegando até as quartas de final. Em 2007, sete gols até a final, derrotada pela Alemanha. Em 2011, quatro gols e mais uma caminhada até as quartas. Em 2015, apenas um gol, limitada por uma lesão e com o Brasil eliminado nas oitavas pela Austrália.

Em 2019, dois gols e a despedida nas oitavas, para a França. Ali, contudo, viveria a virada de chave histórica no país. Uma nova comissão técnica, mudanças estruturais, investimento, um campeonato nacional e a impulsão que em quatro anos transformaria o futebol feminino no Brasil, ainda que com direitos básicos, antes não concedidos a elas.

Em 2023, a última dança. Sem gols pela primeira vez, mas com as palavras certas como sempre. “A Marta acaba por aqui. Estou muito grata pela oportunidade que tive. Continuem apoiando. Para mim é o fim da linha agora, para elas só o começo”, declarou.

Em 20 anos, Marta superou Pelé em gols marcados com a camisa do Brasil, ostentou seis troféus de melhor do mundo e tornou-se a maior artilheira de Copas do Mundo, com 17 gols, a frente do alemão Miroslav Klose.

Se Marta não tinha ídolas para assistir quando começou, transformou-se ela mesma em uma. Para que outras centenas de meninas e mulheres agora a tenham, a rainha, mesmo que não se sinta como tal.

A carreira de Marta:

Seis prêmios de melhor jogadora do mundo (maior vencedora);

Maior artilheira da história das Copas do Mundo (17 gols);

Maior artilheira da história da seleção brasileira (122 gols);

Duas medalhas de prata nas Olimpíadas (2004 e 2008);

Duas medalhas de Ouro nos Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007);

Cinco Copas do Mundo disputadas (2003, 2007, 2011, 2015 e 2019);

Cinco Olimpíadas disputadas (2004, 2008, 2012, 2016 e 2021);

2 títulos continentais (Libertadores 2009 e Liga dos Campeões 2003/04);

7 títulos de ligas nacionais (5 na Suécia e 2 nos Estados Unidos).

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Por

Sou Felipe Junior, jornalista formado, na Universidade Regional de Blumenau (Furb), pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Multimídias, na Anhembi Morumbi, em São Paulo.

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