Estudo questiona uso de máscaras contra Covid-19 e provoca polêmica
Especialistas dizem que pesquisas não conseguiram provar a eficácia das medidas adotadas durante a pandemia; infectologista Julio Croda diz que estudo não é a melhor forma de resolver a questão
24/02/2023
Uma revisão sistemática feita por epidemiologistas britânicos concluiu que o uso de máscaras pode não funcionar para o controle de infecções respiratórias como a gripe, a síndrome respiratória aguda grave e também a Covid-19.
O estudo chamado “Intervenções físicas para interromper ou reduzir a propagação de vírus respiratórios” analisou os resultados de 78 pesquisas feitas em várias partes do mundo, antes e durante a pandemia, para determinar a eficácia real do uso de máscaras e da higiene das mãos para deter a transmissão dessas doenças.
A principal conclusão causou grande surpresa e polêmica: “não temos certeza se usar máscaras ou respiradores N95/P2 ajuda a retardar a propagação de vírus respiratórios”, disseram os epidemiologistas.
Segundo eles, “o uso de máscara pode fazer pouca ou nenhuma diferença em quantas pessoas contraíram uma doença semelhante à gripe ou à Covid-19; e provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença em quantas pessoas têm gripe ou Covid-19 confirmada por um teste de laboratório”.
O trabalho foi feito por 12 epidemiologistas, liderados pelo professor britânico Tom Jefferson, e publicado pela organização sem fins lucrativos Cochrane –uma entidade muito respeitada pelos seus estudos relacionados à saúde pública.
Os cientistas disseram que nem mesmo as máscaras cirúrgicas N95 funcionam a contento para impedir a disseminação dos vírus.
“Em comparação com o uso de máscaras médicas ou cirúrgicas, o uso de respiradores N95/P2 provavelmente faz pouca ou nenhuma diferença em quantas pessoas têm gripe confirmada; e pode fazer pouca ou nenhuma diferença em quantas pessoas contraem uma doença semelhante à gripe ou doenças respiratórias”, diz o estudo.
Já a higienização das mãos teve efeito comprovado para evitar a disseminação de vírus. “Seguir um programa de higiene das mãos pode reduzir o número de pessoas que contraem uma doença respiratória ou semelhante à gripe, ou têm gripe confirmada, em comparação com pessoas que não seguem esse programa”, disseram os epidemiologistas.
O trabalho contraria uma das recomendações mais importantes feitas pela Organização Mundial da Saúde durante a pandemia, que foi justamente o uso sistemático das máscaras respiratórias para evitar a disseminação do novo coronavírus. A recomendação, inclusive, continua em vigor.
A CNN Brasil conversou com o médico infectologista da Fiocruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Julio Croda, que afirmou que “a revisão da Cochrane apesar da metodologia correta, não é a melhor forma de responder se as máscaras funcionam como medida de saúde pública”.
Croda afirma que os próprios autores do estudo “deixam claro que na maioria dos ensaios clínicos analisados não houve um desenho adequado, com falha de acompanhamento e falta de importantes informações como a qualidade das máscaras, tempo de uso, adesão e utilização correta em adultos e crianças”.
Ele também lembrou que “a evidência de eficácia no nível da população não é a mesma que a evidência em indivíduos ou em laboratórios” e que “os ensaios clínicos individuais não são um bom método para avaliar as intervenções populacionais”.
Polêmica
Uma boa parte da polêmica foi criada por artigo do jornalista norte-americano Bret Stephens publicado no jornal The New York Times. O jornalista, um conservador que já questionou no passado as mudanças climáticas mas que mudou de ideia depois de uma viagem à Groenlândia, declarou que o estudo comprovaria que as máscaras simplesmente não ajudam em nada na tentativa de deter a Covid-19.
“Aqueles céticos que foram furiosamente ridicularizados como excêntricos e ocasionalmente censurados como ‘desinformadores’ (por serem contra as máscaras) estavam certos. Os principais especialistas que apoiaram (as máscaras) estavam errados. Em um mundo melhor, caberia a este último grupo reconhecer seu erro, juntamente com seus consideráveis custos físicos, psicológicos, pedagógicos e políticos”, escreveu Stephens.
O artigo vem sendo severamente criticado na internet, por pessoas que acham que ele exagerou e que consideram que o estudo não é definitivo.
Conteúdo original publicado por CNN
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