Cultura

Da Alemanha para o Brasil: a saga dos missionários e padres

Da Alemanha para o Brasil: a saga dos missionários e padres na formação de comunidades católicas de língua alemã no Itapocu e Jaraguá do Sul

15/11/2024

As raízes alemãs fincadas em terras brasileiras encontram um eco profundo na história das comunidades católicas de língua alemã. Missionários e padres, vindos diretamente da Alemanha, desempenharam um papel crucial na construção dessas comunidades, transmitindo não apenas a fé, mas também costumes e tradições. A herança deixada por esses religiosos continua viva nas celebrações, nas tradições e na identidade cultural dessas regiões.

 

Olga Piazera Majcher, Ana Paula Moretti Pavanello Machado, Dirce Fruet Robl, José Francisco Schmitt e Vani Panstein reúnem-se em ‘Na construção de comunidade – Memória…História… 1912 a 2012’ para contar a história da Igreja Católica de Jaraguá do Sul, entre 1912 e 2012. A obra é um convite a uma jornada no tempo, explorando a memória e a identidade da comunidade local.

 

Da Alemanha para o Brasil

Os 200 anos da presença dos povos que falam a Língua Alemã no Brasil são celebrados com ênfase no Vale do Itapocu e em Jaraguá do Sul. Os padres missionários, como os franciscanos e os integrantes da Congregação Sagrado Coração de Jesus, fundada pelo padre francês Leão João Deohn, desempenharam um papel fundamental na formação dessas comunidades. A visita de Dehon à casa de enxaimel de Hermann Mathias, no Rio da Luz, é um exemplo da relação entre a Igreja e os colonizadores, e um marco na história de Jaraguá do Sul.

 

Os primeiros padres a evangelizar Jaraguá foram os franciscanos, que atuaram no território de Jaraguá (Colônia, distrito e município), sendo os freis Solano Schmitt, Fidelis Kamp, Gabriel Zimmer, Hugo Mense, Elpídeo Elpich, Honorato Strauch, Daniel Lapich, Teobaldo Herke, Polycarpo Schuhen, Modestino Oechtering e Meinnolpho Gutberlet. Essa ordem religiosa desempenhou um papel fundamental na formação da comunidade local.

 

Durante sua visita pastoral à Paróquia de Joinville, entre 11 e 16 de fevereiro de 1908, Dom João Becker deliberou sobre a criação da Paróquia de Jaraguá.

 

Nascido em Speyer, Alemanha, em 4 de agosto de 1872, e ordenado padre, Frei Martinho, posteriormente conhecido como padre Ernesto Schulz, ingressou na Congregação Franciscana. Em 1910, como coadjutor em Joinville, foi designado para a importante missão de preparar a criação da Paróquia de Jaraguá, um marco na história religiosa da região.

 

Em 21 de outubro de 1910, o padre Ernesto Schulz elaborou um relatório enumerando as capelas alemãs: Rio Molha, Santíssima Trindade (Jaraguá 84), Santo Estevão (Jaraguá Alto), Santa Cruz (Jaraguazinho), Rio Garibaldi (território da Capela São Pedro que ficava localizado na atual propriedade da família Volkmann) e Hansa Humbold (atual Corupá).

 

Os padres da Congregação do Sagrado Coração de Jesus foram os primeiros a administrar a Paróquia de Jaraguá, criada oficialmente em 31 de julho de 1912, sob a proteção de Santa Emília. A Congregação nomeou os sacerdotes Pedro Boaventura Franken e Henrique Timóteo Meller, ambos da mesma congregação, como párocos. Em 1913, designaram o padre alemão Armando Wolmeiner como coadjutor. Padre Franken deixou Jaraguá em 1919, sendo sucedido pelo padre José Rogmann, como coadjutor da paróquia.

 

O Monsenhor Francisco Topp, secretário de Dom João Becker na Diocese de Florianópolis, teve um papel fundamental na criação da paróquia de Jaraguá. Em 20 de janeiro de 1912, ele assinou o documento oficial que formalizou a criação da paróquia.

 

Em 1914, sob a liderança do Padre Pedro Silvestre Storms (SCJ), foram iniciados os trabalhos para a construção da Escola Paroquial Católica, embrião do que viria a ser, nos anos 40, o renomado Colégio Marista São Luiz.

 

A história da Igreja Católica em Jaraguá do Sul e Corupá é marcada pela atuação de diversos religiosos, especialmente pelos membros da Congregação do Sagrado Coração de Jesus. Entre eles, destacam-se:
Período inicial: Bernard Brand (1914-1918) e Remaclo Foxius (1920, 1925 e 1926) atuaram como coadjutores, auxiliando na pastoral local.

 

Expansão e consolidação: João Basílio Stolte (1927-1931), além de padre, foi reitor do Seminário de Corupá (1935-1937), contribuindo para a formação de novos sacerdotes. O arquiteto e padre Gabriel Jakbus Luz projetou o prédio do seminário em 1932, e o Irmão Luiz Gartner fundou o Museu do Seminário em 1933.

 

Obras sociais e construção:

Alberto Romualdo Jakobs, inicialmente coadjutor (1928) e posteriormente padre (1934-1954), coordenou a construção do Hospital São José (1936) e do Salão Cristo Rei (1948). Afonso Kürpick, ordenado padre na Matriz São Sebastião em 1940, foi o primeiro evento desta natureza.

 

Continuidade e renovação: Outros nomes importantes incluem Orlando Guido dos Passos Kleis (1951-1954), Fridolino Donato Wiemes (1958-1964),

Elemar Tadeu Scheid (1966-1978), João Heidemann (1978), Claudionor José Schmitt (1995) e João Sebastião Boeing (1998-2001),

que deram continuidade ao trabalho dos pioneiros e contribuíram para a renovação da Igreja na região.

 

No Vale do Itapocu, a presença de religiosos que falavam alemão foi fundamental para atender às necessidades espirituais da comunidade imigrante/colonizador. Um exemplo é o Padre Carlos Boegershausen, natural de Duderstadt, na Alemanha, que veio de Joinville à região em 1896. Ele organizou a Comunidade Católica do Senhor Bom Jesus em Itapocuzinho, que se transformaria no distrito de Bananal (1919) e município de Guaramirim (1949). Boegershausen também realizava visitas pastorais em Jaraguá do Sul, oferecendo missas e sacramentos em alemão e português para os católicos.

 

A partir de 1902, a comunidade de Corupá (Hansa Humboldt) já contava com a presença regular de padres franciscanos provenientes de Rodeio,

que celebravam missas e atendiam às necessidades espirituais dos moradores.

Em 1907, como demonstração do crescimento da fé católica na região, construíram a primeira igreja da cidade, proporcionando um espaço próprio para as celebrações religiosas.

 

A comunidade católica de Schroeder iniciou suas atividades em 1913, com a celebração da primeira missa pelo

Padre Pedro Boaventura Franken na capela-escola luterana, localizada na antiga Schröderstrasse.

A comunidade arcou com os custos das celebrações, conforme registrado no ‘kassenbuch der Schulgemeinde’, demonstrando sua organização e autonomia desde os primeiros anos (Pfiffer, 2020).

 

A fé católica foi um elemento fundamental na formação das comunidades de língua alemã no Vale do Itapocu e em Jaraguá do Sul. Os missionários e padres alemães, ao propagarem a palavra de Deus, contribuíram para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Através de suas ações, eles fortaleceram os laços comunitários e deixaram um legado de fé que perdura até os dias atuais.

 

As autoras e o autor, Olga Piazera Majcher, Ana Paula Moretti Pavanello Machado, Dirce Fruet Robl, José Francisco Schmitt e Vani Panstein

ao pesquisarem essa temática, nos ajudam a compreender como a Igreja Católica moldou a história e a cultura de nossa região.

 

Os 200 anos da presença da língua alemã no Brasil nos convidam a celebrar o legado dos missionários e padres que,

com sua fé e dedicação, construíram um patrimônio religioso que perdura até hoje.

 

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Por

Historiador e criador de conteúdo digital para as plataformas do Kwai, Tik Tok e You Tube. Dedicado à pesquisas sobre memória e patrimônio histórico-cultural em comunidades tradicionais

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