Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Conto: O Natal de José e Josias
O sol nem havia despontado, mas José e Josias já estavam de pé na véspera do Natal. “De pé” eles entendiam bem, afinal os dois engraxavam sapatos… Eles moravam no morro e os barracos onde viviam eram bem próximos. E por serem vizinhos, amigos e precisarem ajudar as famílias de…
17/12/2023
O sol nem havia despontado, mas José e Josias já estavam de pé na véspera do Natal. “De pé” eles entendiam bem, afinal os dois engraxavam sapatos… Eles moravam no morro e os barracos onde viviam eram bem próximos. E por serem vizinhos, amigos e precisarem ajudar as famílias de ambos, eles sempre saíam juntos para trabalhar. Levavam um pão dormido cada um para aplacar a fome.
Naquela manhã, ao descerem com os caixotes nos ombros e com o cuidado de sempre, para não escorregarem, ou tropeçarem nas pedras, a dupla se manteve em silêncio a maior parte do tempo. José, o mais velho, tinha olhos e cabelos castanhos e era mais calado. Josias era negro, olhos castanhos, mas ao contrário do amigo, era alegre, otimista e gostava de conversar. Os dois amigos dividiam os problemas e se solidarizavam um com o outro. Josias sempre puxava conversa, contava piadas e no final, um fortalecia o outro.
– Hoje é véspera de Natal… Será que alguém vai lembrar da gente?, pergunta Josias, cansado de tanto silêncio.
– Lembrar da gente?! Ah, esquece essa história de Natal… Papai Noel não existe! Não existe!, insistiu José, que amargou muitos natais sem ganhar nenhum brinquedo.
– Mas tem tanta gente que recebe presentes! A Jéssica ganhou na escola, e o Aírton também! Eles mandaram cartinha e receberam, argumenta Josias.
– Olha, é melhor não esperar por isso, disse José, encerrando o assunto. Não queria que Josias se iludisse e sofresse depois…
Os dois amigos seguiram até a Praça do Mercado e o assunto “Papai Noel” foi esquecido. Ao longo do dia, conseguiram engraxar uma quantidade maior de sapatos. As pessoas se mostravam mais simpáticas e até deixavam gorjetas. Seria o espírito natalino?
– Por que não são assim sempre? No resto do ano, passam pela gente e nem nos olham, disse José, baixinho, com amargura.
– Falou alguma coisa?, questionou Josias.
– Nada, nada, pensando alto…
No intervalo entre um cliente e outro, José e Josias ficavam observando as pessoas que passavam pela praça. Viram crianças da idade deles bem vestidas, de mãos dadas com os pais e se divertindo no parquinho. O calor estava escaldante até na sombra, e ao verem uma menina saborear um sorvete com tanto gosto, os dois engraxates não conseguiram disfarçar a tristeza. José sentiu os olhos marejarem e Josias não conseguiu segurar uma lágrima que escorreu. Como eles queriam estar ali, com todas aquelas crianças, usufruindo das alegrias da infância!
À medida que a tarde ia baixando, o movimento das ruas aumentava. As pessoas carregavam sacolas e pacotes, caminhando apressadas para chegarem logo em casa.
Quando a noite chegou, os dois guardaram as latas de graxa, as flanelas e o dinheiro suado nos caixotes e se prepararam para voltar para casa. Descer o morro sempre foi mais fácil. Porém, subir, depois de um dia inteiro exigia um esforço extra para vencer o cansaço. Ao olhar Josias, notou que o amigo estava de cabeça baixa, visivelmente tristonho, mas preferiu não falar nada.
Quando faltavam poucos metros até chegarem em casa, ouviram crianças gritando e uma música natalina que parecia vir de um carro de som. Incrédulos, José e Josias se entreolharam. Ao chegarem mais perto, eles viram o Papai Noel sorrindo, abraçando e entregando presentes para toda a criançada. O “bom velhinho” estava ao lado de uma caminhonete lotada de itens para distribuição. E ao lado tinha um veículo utilitário, onde as crianças faziam fila para receberem sorvetes. Anos depois, os dois souberam que se tratava de um grupo de amigos que todos os anos escolhiam uma comunidade carente para levar a alegria do Natal.
– Não te falei, José?! Papai Noel existe!!!, gritou Josias, enquanto chorava de alegria.
Josias e José nunca esqueceram daquele Natal. Quando cresceram, com apoio de projetos educacionais de uma organização não governamental que atuava no bairro onde moravam, eles se formaram e seguiram com carreiras paralelas. E sabe o que aconteceu? Hoje, José e Josias também montaram uma equipe e saem todos os anos com o Papai Noel distribuindo presentes às crianças carentes de diversos bairros da cidade. HO! HO! HO!
E você aí, ainda não acredita no Papai Noel?!
Leia também: >>>> Coluna: Um dia de Papai Noel ou Conto: A viagem de Natal
Feliz Natal!
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