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Conto: Chegadas e partidas

Uma estação rodoviária é quase sempre vista como um local caótico, especialmente em períodos comemorativos, de Natal e Ano Novo. Os mais sortudos emendam as folgas com as férias de janeiro. É quando vemos mais passageiros apressados, de olho no relógio e com os ouvidos atentos ao alto-falante, preocupados com a saída e chegada dos ônibus. É esse vai e vem de quem parte e quem chega tão conhecidos, não é mesmo? Quantos destinos se cruzam sem ao menos se conhecer, não é mesmo? Quantos contentamentos e quantas angústias? Impossível saber.

 

E de outro lado estão os que esperam, paciente, ou impacientemente, pelos que estão por chegar. Rostos que traduzem inquietação, expectativa, tristeza. Alguns mostram faces sem expressão, pensativas, resignadas. São tantas histórias que se convergem em um mesmo espaço, ainda que por uma fração de tempo! Alguns frequentadores são mais transparentes, o que possibilita identificar os perfis que diariamente transitam por um terminal rodoviário, especialmente os de médio e grande porte. A maneira como falam, se vestem, e até as expressões e gestos impaciência, nos guichês de passagens, no acesso aos coletivos, na praça de alimentação, em situações inesperadas, podem nos dar um esboço de características básicas, pelo menos as mais visíveis.

 

Ilustração: Freepik

 

 

E para quem é observador por natureza, então?! Aí, nem se fala! Estar em uma rodoviária, como passageiro que aguarda o ônibus, ou na condição de quem está à espera de alguém, é um prato cheio: não faltam histórias para identificar. São reencontros e despedidas, os mais variados. Há os que chegam carregados de malas, caixas e sacolas, possivelmente de mudança, em busca de uma nova vida, de um recomeço esperançoso. Outros desembarcam apenas com um mochila nas costas. E há ainda os que chegam de mãos abanando, somente com “o lenço e o documento”, sabe-se lá… Estariam fugindo do que? De quem?

 

Tem família unida (e também as muito ouriçadas), namorados apaixonados (e os em crise), brigas de casais no estacionamento, pais chamando a atenção dos filhos pequenos, bebês chorando, os retardatários correndo… Os alcoolizados que pedem dinheiro, as “meninas” à procura de clientes, os indivíduos à espreita de uma distração com os pertences para subtrair algo, cães abandonados, que suplicam por comida e atenção, enfim! É como aquele comercial da Rede 1001: Tem de Tudo!

 

Acabaram as férias!

 

Em meio a esse fuzuê todo, o operário Denyelson chegou às 6h30 de volta das férias coletivas da empresa, depois de mais de um dia de viagem atravessando o país. Foi visitar a família depois de dois anos, desde que aceitou vir para o Sul e deixar o sertão para trás. Queria mudar o destino, e desde então passou a se dedicar a isso. Mas a saudade sempre aperta quando lembra dos pais e dos amigos mais próximos.

 

Denyelson desceu do ônibus, pegou a mala e girou o olhar pela rodoviária. Naquela hora, o movimento estava bem menor do que quando saiu. “Viajar é bom, ainda mais quando se fica longe da família, mas hoje aqui é o meu lugar… Não faria mais sentido voltar a morar lá. Amanhã começa tudo de novo! Bora trabalhar!”, disse para si mesmo. Enquanto se dirigia para a saída da rodoviária e já acionava o transporte por aplicativo.

 

E enquanto aguardava o carro, Denyelson ouviu ao fundo o alto-falante com o alerta de mais uma viagem… E assim iniciava mais um dia no terminal rodoviário…

Sônia Pillon

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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