Como Apple se tornou exceção nas demissões em massa de gigantes da tecnologia
Gigantes como Microsoft, Google, Amazon, e Facebook já dispensaram dezenas de milhares de funcionários, em meio a um período de juros mais altos.
07/02/2023
Com aumento dos juros, o crescimento mundial será reduzido drasticamente este ano, segundo previsões de organismos internacionais. E muitas empresas de Wall Street já sabem que isso irá resultar em redução das vendas e dos lucros.
Nesse cenário, quase todos os gigantes norte-americanos da tecnologia adotaram a mesma estratégia: reduzir custos. Microsoft, Google, Amazon, Tesla, Facebook e Nvidia, entre muitas outras empresas, estão dispensando simultaneamente dezenas de milhares de funcionários.
A Amazon irá dispensar 18 mil trabalhadores; a Microsoft, 10 mil; e a Salesforce demitirá 8 mil pessoas. O Twitter perdeu mais de 50% da sua renda e a Alphabet (dona da Google) irá dispensar cerca de 12 mil funcionários.
A lista de empresas de tecnologia que anunciaram cortes na sua folha de pagamentos também inclui Netflix, Stripe, Snap, Coinbase, Robinhood, Peloton, Lyft e muitas outras. Cada empresa tem suas próprias razões, mas elas fazem parte do boom tecnológico que chegou ao ápice durante a pandemia, depois de anos de progressos extraordinários.
Mas, em meio a toda esta tormenta, a Apple é exceção entre as demissões em massa promovidas no setor de tecnologia.
Cautela durante a pandemia
A empresa vem evitando, até agora, os grandes cortes de pessoal e investimentos, depois de um período de crescimento cauteloso.
Os analistas concordam que a Apple encontra-se em posição diferente dos seus pares porque foi mais estratégica com relação ao seu crescimento, o que a preparou melhor para um possível cenário de recessão econômica.
Elon Musk conduziu grandes cortes de pessoal em duas das suas empresas, a Tesla e o Twitter — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Entre setembro de 2021 e setembro de 2022, a empresa contratou apenas 10 mil novos funcionários, aumentando seu quadro de 154 mil para 164 mil empregados em tempo integral, segundo documentos apresentados à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) e analisados pela publicação norte-americana Business Insider.
Este número é muito menor que as dezenas de milhares de funcionários contratados pela Amazon, Meta e Google no mesmo período.
Mais serviços, menos hardware
Outra razão que mantém as contas da Apple no azul é a aposta da empresa por serviços e produtos Premium, em comparação com outros setores de negócios mais concentrados em hardware, como os iPhones, iPads e computadores.
“A ação [negociada na bolsa de valores] mais valiosa do mundo é um símbolo de grande parte dos desafios e oportunidades enfrentados pelas grandes empresas tecnológicas hoje em dia”, explica Ben Laidler, estrategista de mercados globais da plataforma de investimentos eToro.
“Ela promoveu grandes mudanças, saindo do hardware em direção aos serviços, como o Apple Pay e Apple Music.”
“Este setor duplicou sua proporção com relação à receita nos últimos anos, impulsionando um aumento significativo da margem de lucro”, prossegue ele, “o que, por sua vez, ajudou a Apple a manter valorização acima do mercado, ao contrário de muitos dos seus homólogos das grandes empresas tecnológicas”.
Analistas indicam que o peso dos consumidores individuais irá diminuir no futuro, em comparação com as empresas — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Laidler acredita que a Apple também soube aproveitar o aumento da demanda de produtos premium de luxo.
“Com seus iPhones de US$ 1.000 [cerca de R$ 5,2 mil], ela detém 20% das vendas globais de smartphones, mas recebe 80% dos lucros do setor”, afirma ele. “Isso está ajudando a compensar a brutal redução atual da demanda de smartphones.”
Além disso, acredita-se que 60% das vendas no exterior sejam beneficiadas pela queda do dólar.
A deslocalização
Considerando que o aumento das tensões entre os Estados Unidos e a China pode reduzir os lucros das empresas tecnológicas americanas que detêm fontes de receita ou capacidade de fabricação no gigante asiático, “a Apple reduziu drasticamente o excesso de dependência da China na sua cadeia de fornecimento”, afirma Laidler.
“Depois do Vietnã, a Apple acelerou a diversificação da sua cadeia de fornecimento na Índia e seus principais fornecedores, Pegatron e Foxconn, aumentaram sua produção nos últimos anos”, segundo Jacques-Aurélien Marcireau, codiretor de renda variável, e Bing Yuan, analista de renda variável internacional da empresa de gestão de ativos Edmond de Rothschild AM.
“O objetivo de longo prazo da Apple é transferir para a Índia 40% a 45% da montagem do iPhone, contra o percentual atual de um único dígito e de 25% em 2025”, afirmam eles.
Tim Cook assumiu o posto de Steve Jobs como diretor-executivo da Apple em 24 de agosto de 2011 — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Segundo a Bloomberg, a Apple está desenvolvendo internamente novos chips e modems, para tentar reduzir a dependência de fornecedores como a Qualcomm e a Broadcom.
“Olhando para o futuro, é provável que os modelos de negócios digitais orientados ao consumidor tenham resultados abaixo dos modelos de negócios orientados às empresas”, afirma Trevor Noren, estrategista de investimentos temáticos da empresa de gestão de ativos Wellington Management.
“Segundo as estimativas da International Data Corporation, a datasfera empresarial crescerá com mais que o dobro de rapidez da datasfera de consumo”, segundo Noren.
Por fim, é preciso recordar que o diretor-executivo da Apple, Tim Cook, aceitou há pouco tempo uma redução do seu pacote salarial em 40%, depois que apenas 64% dos acionistas aprovaram o plano de distribuição de lucros de 2022.
Conteúdo original publicado por G1
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