Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: Vamos falar sobre o Setembro Amarelo?
As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres
01/09/2024
O tema é incômodo e tratado como tabu, no ambiente escolar, no meio social e nas conversas em família, mas é cada vez mais preocupante e não pode ser ignorado: o suicídio entre adolescentes e jovens. A Campanha Setembro Amarelo trabalha justamente os desafios em prevenir o suicídio, na busca por soluções que possam conduzir a um maior entendimento e valorização da vida. A tarefa é árdua e exige o engajamento e esforços da sociedade como um todo.
Recentemente, a morte de um aluno de 14 anos do Colégio Bandeirantes, em São Paulo, que interrompeu a própria vida por se sentir rejeitado pelos colegas, reacendeu o alerta sobre a importância em identificar os sinais que podem conduzir a esse desfecho trágico. Vale lembrar que o estudante em questão era bolsista de um dos estabelecimentos de ensino da elite paulistana e se queixava de bullying constante por ser negro, pobre e gay.
As fragilidades emocionais e a falta de aceitação no meio social podem ser devastadoras para adolescentes e jovens. (Fotos: Freepik)
Ao que tudo indica, a escola não soube lidar com a situação e abriu questionamentos que ultrapassaram as fronteiras de São Paulo. Será que o desfecho poderia ter sido diferente se a instituição se posicionasse contra as atitudes dos que humilhavam sistematicamente o colega? E se o colégio disponibilizasse reforço psicológico ao estudante vítima de bullying? Após o triste episódio, a direção do Colégio Bandeirantes se disse “profundamente abalada” com a morte do educando e se colocou à disposição da família enlutada, porém, se eximiu de qualquer responsabilidade e reforçou que não existe obrigação legal em oferecer acompanhamento psicológico. E em uma reunião do conselho escolar, chegou a ser cogitado o cancelamento do convênio com a organização não governamental que encaminha estudantes de baixa renda. Então a culpa é dos bolsistas por não serem aceitos? Não teria sido melhor se o tradicional colégio particular expressasse posição aos alunos sobre inclusão e respeito às diferenças? Fóruns internos de discussão poderiam ter contornado a situação e ter impedido a tragédia? Pois é… na minha opinião, empatia zero!
“Adolescentes estão gritando, alguns pela voz, alguns pelo silêncio, outros pelas marcas no corpo… E nós precisamos ouvi-los. O trabalho de prevenção ao suicídio precisa ser amplo, numa perspectiva intersetorial e multidisciplinar”, afirma a psicóloga de adolescentes Estela Ramires Lourenço, especialista em Intervenção na Autolesão, Prevenção e Posvenção do Suicídio (SP).
Episódios como o ocorrido no Colégio Bandeirantes infelizmente não são isolados. São representativos de uma realidade escancarada: a necessidade das instituições de ensino reavaliarem a maneira como reagem a um problema que cresce no Brasil e no mundo. Como estamos criando as novas gerações? Quais são os valores que são repassados em casa e na escola? Entendo que uma educação baseada em princípios humanistas poderia contribuir para uma mudança significativa nesse quadro assustador.
O Setembro Amarelo está aí para reforçar os mecanismos preventivos contra o suicídio. É hora de agir em prol da saúde mental de nossos adolescentes, jovens, sem esquecer das demais faixas etárias.
Estatísticas anuais alarmantes
Foto: Freepik
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária, câncer de mama, ou em guerras e homicídios.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. É um fenômeno complexo, que pode afetar diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres. No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem por tirarem a própria vida. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa média renda (7,1% por 100 mil).
Em países da Europa, houve um declínio nas taxas de suicídio, com aumento dessas taxas em países do Leste Asiático, América Central e América do Sul. Embora alguns países tenham colocado a prevenção do suicídio no topo das prioridades, muitos permanecem não comprometidos:apenas 38 países são conhecidos por implementarem uma estratégia nacional de prevenção ao suicídio. (Fontes: https://revistacrescer.globo.com, setembroamarelo.com).
Se precisar, peça ajuda!
Em 2013, Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)colocou no calendário nacional a campanha internacional Setembro Amarelo. E, desde 2014, a ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgam e conquistam parceiros no Brasil inteiro para a campanha.
No dia 10 deste mês é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda!”, com diversas ações em desenvolvimento. Portanto, divulgue o Setembro Amarelo! Ajude a salvar vidas!
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