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Coluna: O sonho de Jourdan

Comandar 60 trabalhadores para desbravar essas terras inóspitas não tem sido uma tarefa fácil! Se bem que eu sabia dos desafios que ia enfrentar ao receber essas terras dotais da princesa Isabel e do meu caro amigo, conde D´Eu. Quando penso que chegamos aqui, margeando o rio Itapocu, rumo ao…

09/07/2023

Comandar 60 trabalhadores para desbravar essas terras inóspitas não tem sido uma tarefa fácil! Se bem que eu sabia dos desafios que ia enfrentar ao receber essas terras dotais da princesa Isabel e do meu caro amigo, conde D´Eu. Quando penso que chegamos aqui, margeando o rio Itapocu, rumo ao desconhecido, e lembro da emoção que senti ao penetrar pela primeira vez esse vale…  Ao avistar esse lugar lindo, de matas exuberantes e águas cristalinas, tive a certeza que aqui é o lugar certo para se prosperar… E essa sensação é muito forte dentro do meu coração!

 E pensar que eu, o engenheiro belga Emílio Carlos Jourdan, que já enfrentou até guerras nessa minha carreira de militar, agora enfrenta essa odisseia para colonizar esse fértil Vale do Itapocu, com esses tantos índios, curiosos e temerosos de nós. O Morro da Boa Vista nos olha soberano, enquanto luto com essa equipe para instalar esse engenho de cana, a serraria, a olaria, e o engenho de fubá e mandioca. Investi todo o meu dinheiro nessa empreitada! Essa Colônia Jaraguá tem tudo para se tornar o futuro Eldorado. Sinto que um dia todos vão querer trabalhar e viver nesse lugar mágico, onde tudo se planta e tudo frutifica.

 Como é lindo ver esse povo com olhares brilhantes, transbordantes de esperança. A força de trabalho desse povo brasileiro, da aguerrida etnia negra, e dos incansáveis imigrantes europeus, essa deliciosa diversidade cultural é fascinante! Sinto que um dia eles vão estar lado a lado, crescendo juntos… E que esse dia não demore! Já é madrugada e perdi a conta das horas. Todos já estão dormindo e acho que vou fazer o mesmo. Amanhã é outro dia!

Após se dirigir ao leito, Emílio Carlos Jourdan vai lentamente fechando os olhos. O corpo está moído do esforço físico do dia e ele rapidamente se entrega a um sono profundo.  De repente, Jourdan se levanta e caminha em direção à porta. Ao sair fora da casa, arregala os olhos, espantado.

 – O que é isso?! Que prédios enormes! E essas chaminés? Cadê os cavalos?!…

Emílio Jourdan anda mais alguns metros e olha atentamente as ruas calçadas e inúmeros veículos. O ruído que produzem lhe parece ensurdecedor. Desce até uma rua, encontra um desfile e fica observando, curioso e assustado.

– Essas pessoas estão vestindo roupas que conheço, pelo menos! Estão segurando faixas… Mas o público se veste de uma forma tão estranha… E me olham como se me reconhecessem… O que está acontecendo?! Não entendo mais nada!

– Parabéns, Jourdan! Vamos comemorar os 147 anos de Jaraguá!, diz um homem, enquanto passa por ele com um sorriso largo.

– Só posso estar sonhando com o futuro!, diz Jourdan para si mesmo, emocionado, enquanto avista uma menina negra que lhe sorri timidamente e entrega um ramo de flores.

 *Conto em segunda versão, originalmente escrito e publicado em 2003, no https://nanquin.blogspot.com/2013/08/o-sonho-de-jourdan-sonia-pillon.html?m=1.

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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