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Coluna: O fascínio e a obsessão pelo Titanic

Ao longo da semana, as atenções do mundo se voltaram para o submersível “Titan”, que levava cinco pessoas a bordo até as profundezas do oceano, em uma missão suicida para encontrar os  destroços do Titanic, naufragado em 1912. Uma tragédia anunciada, já que a “aventura” em todos os aspectos foi…

25/06/2023

Ao longo da semana, as atenções do mundo se voltaram para o submersível “Titan”, que levava cinco pessoas a bordo até as profundezas do oceano, em uma missão suicida para encontrar os  destroços do Titanic, naufragado em 1912. Uma tragédia anunciada, já que a “aventura” em todos os aspectos foi desaconselhada por especialistas em navegação, repetindo a tragédia do Titanic, quando mais de 1.500 pessoas morreram pela falta vergonhosa de botes salva-vidas para todos os passageiros. Que obsessão mórbida é essa, que leva pessoas a “revisitarem” um episódio que causou tanta dor e consternação por tantas vítimas?

O fascínio que o naufrágio do Titanic provoca no imaginário das pessoas já rendeu filmes que lotaram as bilheterias, mas sem dúvida o de sucesso estrondoso foi estrelado por Kate Winslet e Leonardo Di Caprio, dirigido por James Cameron, em 1997. Detalhe curioso: Cameron realizou 33 expedições aos destroços do Titanic para produzir um documentário, antes do filme, e em uma dessas descidas, permaneceu 16 horas preso ao fundo do mar, acreditando que iria morrer…

Consultado sobre a implosão do submersível, James Cameron se disse “chocado com a similaridade com o desastre do próprio Titanic, no qual o capitão foi avisado diversas vezes sobre o gelo à frente do navio, mas continuou a toda velocidade”. E não é para menos! Assim como o comandante do Titanic, Edward John Smith, o dono da OceanGate, Stockton Rush, desdenhou os alertas sobre a insegurança da embarcação, e está entre as vítimas. A palavra que define as atitudes de ambos é uma só: arrogância, porque ambos se deixaram levar pelo ego em detrimento do bom senso.

O submarino (se é que pode ser chamado assim!), dirigido por controle semelhante a videogame e de precária instalação interna, mais parecia um experimento de feira de ciências escolar! Outro detalhe curioso: a agora viúva Wendy Rush, é tataraneta de um dos casais desaparecidos no Titanic e ocupa o cargo de diretora de comunicação da OceanGate…

Mas o que levou cada um dos passageiros a desembolsar US$ 250 mil (equivalente a R$ 1,2 mihão) para conseguir uma vaga no OceanGate? Simplesmente a vaidade! Com tanta fome no mundo, crises humanitárias causadas por guerras, catástrofes ambientais e pela situação desesperadora dos refugiados, com certeza uma destinação tão vultosa de recursos seria muito bem-vinda em quaisquer desses casos. Além disso, não teriam perdido suas vidas de uma forma tão repentina quanto lamentada.

Que episódios catastróficos como esse do submersível sirvam de lição. Por que será que a Humanidade insiste em aprender pela dor?

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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