Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: Mas que bola fora, Abel!
E segue a repercussão sobre a postura machista do técnico do Palmeiras, o português Abel Ferreira, com a repórter Alinne Fanelli, da rádio Bandeirantes. no último sábado (24). É inadmissível que em pleno 2024 uma profissional da mídia seja desrespeitada durante uma coletiva de imprensa pelo simples fato de ser…
26/08/2024
E segue a repercussão sobre a postura machista do técnico do Palmeiras, o português Abel Ferreira, com a repórter Alinne Fanelli, da rádio Bandeirantes. no último sábado (24). É inadmissível que em pleno 2024 uma profissional da mídia seja desrespeitada durante uma coletiva de imprensa pelo simples fato de ser mulher. E para quem não soube desse lamentável ocorrido, no término da partida, em que o time paulistano venceu o Cuiabá Esporte Clube (MT), por 5 a 0, Aline fez o que se espera de todo repórter, independente de gênero: fazer perguntas ao entrevistado. Ao ser questionado sobre a condição de Mayke, que saiu machucado no primeiro tempo, Abel mostrou irritação: “Tenho que dar satisfação a três mulheres só: minha mãe, minha mulher e a Leila (Leila Pereira, presidente do Palmeiras). Elas são as únicas que podem me pedir explicação”. Oi?! Em que século você vive, Abel Ferreira?!
Técnico Abel Ferreira na coletiva após a vitória de 5 a 0 contra o Cuiabá Esporte Clube. Foto: Reprodução de vídeo ESPN / Jogada10
Realmente, não dá para acreditar que, em pleno século 21, uma mulher ainda tenha que passar por esse tipo de tratamento no exercício da profissão. Me pergunto se essa é uma postura comum no país de origem do treinador em questão. Ou se é um posicionamento movido pela xenofobia, ao estar trabalhando em “terras tupiniquins”…. Ou será ainda por considerar que uma mulher não é suficientemente capaz para atuar em uma cobertura esportiva, num país que teve Marta como melhor jogadora do mundo em cinco oportunidades?
Que papelão, Abel! Por sinal, você coleciona polêmicas nesses quatro anos vitoriosos à frente do clube. E antes que algum torcedor fanático queira “passar pano” para esse episódio, informo que torço pelo Verdão, em São Paulo, e para o Internacional no Rio Grande do Sul, minha terra natal. E, vale lembrar, o Palmeiras comemora 110 anos nesta segunda-feira (26)! Viva o Palmeiras!
Treinador do Palmeiras durante o jogo do último sábado. Foto: Cesar Greco/Palmeiras/by Canon)
Se escrevesse uma carta para você…
Se tivesse que enviar uma carta para você, Abel, com certeza teceria alguns comentários em nome das profissionais do Jornalismo brasileiro. Sim, você se desculpou, disse que foi uma declaração “infeliz”, mas na verdade, o que você disse respingou não somente nas repórteres, mas em todas as brasileiras que seguem na luta pela igualdade de direitos. Sororidade, já ouviu falar? Ela também contou com a solidariedade de homens que têm concepções diferentes da sua sobre o papel da mulher contemporânea na sociedade. A sua atitude, Abel, corresponde a um retrocesso de décadas, entende? Ainda bem que a Alinne, da Band, que saiu triste da coletiva, recebeu tantas manifestações de apoio, carinho e acolhimento que, ao final, se sentiu fortalecida. Viu só, Abel?
Você não me conhece, Abel, mas saiba que há duas décadas atuei como repórter esportiva aqui em Jaraguá do Sul, no norte de Santa Catarina! Fazia cobertura de campo e escrevia para um jornal de circulação estadual. Quando necessário, entrevistava até no vestiário o comandante do time, mas, felizmente, sempre fui respeitada. Por sinal, um respeito alcançado gradativamente, com muito esforço e dedicação. E já se vão mais de 20 anos, Abel! Inúmeras colegas por esse Brasilzão mostram a que vieram todos os dias, na telinha, nos veículos impressos e demais plataformas.
Aqui no Brasil, Abel, há décadas as mulheres passaram a se destacar nessa área! Apesar do futebol ser considerado, ainda, um reduto machista, espaços foram conquistados, nos últimos anos: já temos narradoras e comentaristas que dão show em todas as plataformas! Aliás, a presença feminina supera a masculina nas faculdades de Jornalismo deste país há três décadas, pelo menos. Hoje, felizmente, já há empresas de comunicação que abrem espaço e valorizam os repórteres pelo perfil, independente de gênero, o que é um grande avanço. E não esqueça, Abel, que a presidência do clube que o contratou é exercida por uma mulher, o que já diz muito, não é mesmo?
É, Abel Fernando Moreira Ferreira, você precisa rever seus conceitos… Ou melhor, rever seus preconceitos.
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