Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: Como homenagear o papai?
Há os que passam a vida inteira agindo como se eternos fossem, justamente para “esquecer” a finita condição da existência
11/08/2024
Hoje comemoramos o Dia dos Pais. Felizmente, em terras jaraguaenses, o domingo chegou ensolarado, como a presentear pela data, tão aguardada pelas famílias.
Em muitos lares, para os que convivem com a figura paterna, é o momento de confraternizar e demonstrar todo o amor e gratidão. Um pai tem uma importância ímpar na formação de um filho, na transmissão de ensinamentos e, principalmente, nos exemplos que deixa.
A figura do provedor tradicional não é mais absoluta hoje em dia, já que é comum ver ambos os cônjuges trabalhando para o sustento da casa. Pai presente, pai ausente, pai desconhecido, mãe que acumula o papel de pai e vice versa… Aliás, hoje existem novas variantes de paternidade, não é mesmo? Acima de tudo, ser pai é ter consciência de que é preciso deixar um bom legado aos filhos. E como um filho pode homenagear o pai? Sendo motivo de orgulho para ele, se dedicando em todas as fases da vida. Muito mais do que presentes, eles querem ser amados e respeitados.
Há os pais que se já se despediram da jornada terrena e deixaram saudades. Para esses filhos, como eu, o dia de hoje traz nostalgia, lembranças que levaremos na alma. A partir do momento que entendemos que pais não são perfeitos, fica mais fácil recordar dos bons momentos, reconhecer suas qualidades e esforços, ao longo da vida. A gente sabe que o dia da partida, do passamento, chega para todo mundo, porém, na verdade não estamos preparados para esse momento. E por isso fazemos de tudo para não lembrar.
Há os que passam a vida inteira agindo como se eternos fossem, justamente para “esquecer” a finita condição da existência. Os que se consideram “blindados” por serem jovens, via de regra, pagam caro pela imprudência. Não raro, com a própria vida. Mesmo os mais precavidos e os que acreditam em outras dimensões, se sentem pegos de surpresa quando alguém que amam sai de cena, definitivamente.
Ah, como gostaríamos que o tempo fosse mais elástico! Queremos prolongar os dias de convivência, mas não somos consultados sobre a partida. Não nos dão esse direito. E não importa se quem amamos tem idade avançada, porque o sentimento de perda é o mesmo. Há quatro anos meu pai Almerindo partiu, deixando um rastro de tristeza e saudade. E para os que argumentam que ele já tinha vivido muito além das expectativas e das estatísticas, “na hora extra”, como dizem alguns, garanto que não estava preparada! É que nem sempre conseguimos ser realistas quando há sentimentos envolvidos.
Meu pai nem de longe foi um atleta. Pelo contrário, enfrentou inúmeros problemas de saúde ao longo da vida. Era um homem regrado, sem vícios. “Eu sempre me cuidei”, repetia sempre. Mesmo assim, encarou e venceu a radioterapia, enfartes, se submeteu a duas pontes de safena e passou por várias internações. Sempre foi um homem de luta.
Papai Almerindo se agarrava à vida de forma tenaz, motivado pelo amor e estímulo que recebia da família e dos amigos, mesmo os mais distantes. Carismático, mantinha uma certa ingenuidade no olhar e nas atitudes. Não enxergava a maldade nas pessoas e confiava além da conta. Era sincero, leal e bem humorado. E justamente por ter essa maneira singular de ser que ele cativava e conseguia manter amizades por décadas.
Meu pai certa vez me contou um episódio que me encheu de orgulho: ao encontrar uma carteira com dinheiro e documentos, procurou o contato do dono e o avisou. Para espanto do homem, não aceitou nenhuma recompensa. Disse que o dinheiro não era dele e o correto era devolver. E ele estava certíssimo!
No dia 19 de agosto de 2020, um mês após completar 92 anos, em plena pandemia, o Velho Guerreiro Pillon finalmente depôs as armas, vencido pelo cansaço. Lutou bravamente, como sempre fez, mas o coração já batia devagarinho, como um trem que reduz a velocidade quando o passageiro está prestes a descer… E foi o que aconteceu. Depois de percorrer tantos vagões e estações, finalmente chegou ao fim da viagem. Desembarcou deixando um aperto no peito em todos que o amavam e admiravam. A cortina do palco da vida tinha se fechado e chegado a hora de me despedir do Velho Guerreiro Almerindo José Pillon, mas me conforta saber que um dia iremos nos reencontrar.
*Adaptação do texto “A despedida do Velho Guerreiro”, escrito em agosto de 2020.
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