Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: Chega de “passar pano” para os ídolos do futebol!
O Brasil é o país do futebol. Mesmo com outras modalidades esportivas que contam com a preferência do público, como o vôlei e o basquete, e a ascensão do surf e do skate, nosso país é essencialmente futebolístico. Enaltecemos as qualidades técnicas dos jogadores em campo, e os que são…
01/05/2023
O Brasil é o país do futebol. Mesmo com outras modalidades esportivas que contam com a preferência do público, como o vôlei e o basquete, e a ascensão do surf e do skate, nosso país é essencialmente futebolístico. Enaltecemos as qualidades técnicas dos jogadores em campo, e os que são decisivos na conquista de um campeonato pulam do anonimato para a glória. Se tiverem talento com a bola, podem saltar da extrema pobreza para o extremo luxo, com salários milionários.
Endeusados pelas torcidas e deslumbrados com o poder que o dinheiro pode proporcionar, muitos jogadores passam a se sentir donos do mundo e acima da lei. Bajulados pelos torcedores, muitos atletas são protegidos pelos “cartolas” e por parte da imprensa esportiva, que minimiza comportamentos extracampo, inclusive os crimes sexuais. Lastimável! Até quando a dor das vítimas será ignorada e ficará impune?
É vergonhoso constatar que dois ex-craques condenados por estupro na Europa tenham voltado ao Brasil e vivem como se nada tivesse acontecido, sem nenhum arrependimento pelos crimes que cometeram.
Ao longo da semana o ex-jogador Cuca, que estuprou uma menina de 13 anos em 1987, em Berna, na Suíça, juntamente com mais três jogadores do Grêmio, bem que tentou esconder, acusando a imprensa de “perseguição”. Mas não contava que seria desvendada a verdade: a Justiça suíça confirmou a sua participação no estupro pela presença de sêmen no corpo da menina. Entre os condenados também está Eduardo Hamester, hoje preparador de goleiros no Grêmio, pressionado pela torcida para que seja demitido. Vale lembrar que, na época, a adolescente chegou a tentar o suicídio…
Passadas quatro décadas, o crime cometido na Suíça prescreveu, mas é inadmissível que algo tão grave seja esquecido. Ele realmente não poderia seguir como técnico do Corinthians!
E o que dizer de Robinho? Condenado a nove anos de prisão pelo estupro coletivo de uma jovem albanesa em Milão, na Itália, em 2013, Robson de Souza respondeu em liberdade até a decisão judicial e se apressou a retornar ao Brasil, que não extradita seus cidadãos. Não faltaram provas contra ele. Mesmo assim, é visto livre, leve e solto pelas praias de Santos, exibe fotos sorrindo com “parças” do futebol de areia e “fãs” nas redes sociais. Ao que tudo indica, a decisão da Justiça Brasileira se ele deve, ou não, cumprir a pena por aqui, pode demorar. Com certeza, ele conta com isso.
E na Espanha temos Daniel Alves, que decidiu se divertir em uma boate enquanto a esposa acompanhava a mãe em estado terminal no hospital. É acusado de estupro por uma jovem de 23 anos, que declarou ter sido muito machucada e se submeteu a exames médicos imediatamente após a denúncia. Daniel já mudou de versão inúmeras vezes e o caso segue em investigação. É mantido preso justamente pelo risco de fugir antes do veredito, a exemplo do que aconteceu com Robinho. Enquanto isso, parcela da imprensa (especialmente a brasileira) se preocupa mais com a carreira do jogador, e em massacrar a ex-esposa dele, Joana Sanz, por optar pelo divórcio. E a mulher que o acusa do crime? E o sofrimento dela, se foi estuprada, por que não falam? Não conta? Chega de “passar pano” para os ídolos do futebol!
Que tenhamos tolerância zero com a cultura do estupro, independente se quem cometeu é uma celebridade, ou não. Trata-se de um crime covarde e é preciso defender e apoiar as vítimas de violência sexual.
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