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Coluna: As muitas glórias de Glória

Essa história bem que poderia começar da forma clássica, mesmo absolutamente singular: Era uma vez uma menina preta e pobre de periferia que, movida pela curiosidade, determinação, coragem e ousadia, optou pela carreira jornalística. Mais precisamente, pelo jornalismo televisivo, abrindo espaço e servindo de inspiração para outras mulheres negras, que…

05/02/2023

Essa história bem que poderia começar da forma clássica, mesmo absolutamente singular: Era uma vez uma menina preta e pobre de periferia que, movida pela curiosidade, determinação, coragem e ousadia, optou pela carreira jornalística. Mais precisamente, pelo jornalismo televisivo, abrindo espaço e servindo de inspiração para outras mulheres negras, que passaram a se sentir representadas. Sim, inspirou gerações de jornalistas mulheres pelo Brasil, e não somente negras!

Como repórter, transitou por todas as editorias e buscou as pautas mais desafiadoras. Superava o medo, o frio na barriga, se jogando em reportagens marcadas pelo ineditismo. Inovou ao introduzir a interação com os entrevistados. Com ela, felizmente, as matérias deixaram de ser frias, robóticas, e passaram a ter uma pegada mais humana.

Para o telespectador, mesmo da poltrona, ficava a sensação de estar vivenciando ao lado dela, tanto em um voo de asa delta, numa experiência de body jumping, como em uma viagem a um país exótico. Não é exagero, nem apelação: a nossa personagem, que se despediu abruptamente essa semana e provocou comoção nacional, teve sim, uma carreira gloriosa!

Acompanhei a carreira de Glória Maria desde pequena, com atenção e admiração. A maneira com que ela se dirigia aos entrevistados demonstrava sempre respeito e empatia pelo ser humano. Não importava se o depoimento era de um indivíduo do povo, um presidente da República, ou uma celebridade: todos eram abordados com o mesmo tratamento, sem distinção. Carismática, conquistava a todos com um sorriso, sua marca registrada.

Como jornalista, por três décadas atuei como repórter de mídia impressa, e posso afirmar que Glória Maria com certeza está entre os profissionais da área que nortearam a minha postura ao longo da carreira.

Ela foi a prova viva de que a idade se torna irrelevante quando há competência, criatividade e curiosidade, o tripé essencial para seguir no jornalismo. Provou que etarismo, ou seja, o preconceito baseado na faixa etária, não faz sentido. Como esquecer que ela atuou por 50 anos? Sem dúvida, a sociedade precisa rever seus conceitos. É preciso parar de discriminar pessoas por causa da data de nascimento, especialmente as mulheres…

Glória de tantas glórias! Ícone. Deixa um legado que será sempre lembrado. Siga em paz, Glória Maria!

Por

Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.

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