Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: A hora da reconstrução
A gente sabe que muita coisa ficará para trás. A retomada econômica precisa acontecer o quanto antes,…
02/06/2024
Maio se despediu deixando um rastro de destruição para os gaúchos, que agora, num esforço supremo, arregaçam as mangas e se empenham na reconstrução. E com certeza há muito a ser feito, e refeito! É certo que muitos terão de recomeçar do zero. E agora?! Agora é começar tudo de novo, com força, foco e fé! Chegou a hora de enxugar as lágrimas, espantar a tristeza, sacudir a poeira e dar a volta por cima! Seguir em frente e iniciar um novo ciclo.
O Brasil e o mundo acompanharam os reflexos da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Imagens de pessoas desesperadas salvas em barcos, devastadas por terem perdido tudo o que tinham e sem vislumbrar o que o amanhã reservaria para elas percorreram o planeta.
Vimos animais apavorados, se refugiando nos telhados, e nos emocionamos com os resgates. Como esquecer o cavalo “Caramelo”, que se tornou o símbolo da resiliência do povo gaúcho? A pressão geral impulsionou o salvamento do Caramelo em segurança e a tempo de se recuperar, o que trouxe alívio e intensa comemoração.
Ainda bem que ter um espírito guerreiro é uma característica do riograndense ao enfrentar as batalhas da vida! E isso desde os tempos em que era preciso guerrear para defender o território. Como diz o ditado repetido de geração em geração, “Não tá morto quem peleia!”.
A hora da reconstrução: A dura realidade com o baixar das águas
A hora da reconstrução: Guaíba finalmente baixou e é iniciada a limpeza do Centro Histórico de Porto Alegre
O cenário que se apresenta é de guerra. Com o baixar das águas, é possível ter uma dimensão de tudo o que foi perdido, desde moradias e pequenos negócios que vieram abaixo, até empresas de grande e médio porte. Pecuaristas que não conseguiram salvar parte do gado e produtores rurais com perda total das lavouras agora contabilizam os prejuízos, especialmente na Grande Porto Alegre e nos municípios do interior.
Em Porto Alegre, as águas do Lago Guaíba agora estão abaixo do nível de inundação. A limpeza do Mercado Público e dos demais espaços do Centro Histórico está em andamento, mas ainda o bairro Sarandi continua inundado em muitos pontos. No Extremo Sul, próximo à Lagoa dos Patos, a situação preocupa.
No Mercado Público de Porto Alegre foram iniciados os trabalhos de limpeza interna
Bairro Sarandi, na capital gaúcha, ainda se mantém com parte das ruas alagadas
Mesmo entre os que puderam retornar para casa, ou empreendimentos, móveis, equipamentos, parte da produção, documentos e lembranças de toda uma vida se foram perdidos com as enchentes. É uma dura realidade que precisa ser enfrentada: sucumbir à derrota não é opção.
A gratidão pela corrente de solidariedade
A corrente de solidariedade que se formou em torno do Rio Grande do Sul é algo que com certeza os gaúchos não irão esquecer jamais! Como brasileira, mas principalmente como gaúcha de nascimento, que tem parentes e amigos na terra natal, foi comovente constatar que a ajuda veio de todos os estados da Federação e do exterior. A gratidão daquele povo sofrido está estampada nos rostos, nos olhos embaçados e nos sorrisos. Eles fazem questão de agradecer. É o conforto que traz alívio a tanta dor.
O Rio Grande foi abraçado fortemente e não faltaram apoios de todas as esferas, federal, dos estados e municípios, no envio de corporações, equipamentos, na destinação de recursos, donativos e insumos. Enfrentaram horas e horas de deslocamento, contornando as vias de acesso até chegarem o destino. Salvaram vidas humanas e de animais de todos os portes, com a premissa de que “toda a vida importa!”.
Com esse triste episódio, o Brasil mostrou mais uma vez que tem um povo solidário, capaz de sentir empatia com a dor humana. O que é uma grata surpresa, numa época em que, não raro, o individualismo impera. E o Rio Grande do Sul ainda precisará de muita ajuda e tempo para se reerguer.
Reconstrução – Como será a retomada econômica?
A gente sabe que muita coisa ficará para trás. A retomada econômica precisa acontecer o quanto antes, mas ainda é uma incógnita. Será preciso recuperar edificações históricas, acervos museológicos e de instituições de ensino, espaços públicos e privados… Realocar cidades, bairros inteiros, reforçar a infraestrutura, recuperar parte da malha viária do Estado e reestruturar os serviços de saúde.
A empregabilidade é outro fator de preocupação, principalmente com as empresas fortemente atingidas que terão de fechar as portas, ou reduzir o número de empregados. Será que as linhas de crédito que foram abertas suprirão as necessidades? O desafio está lançado…
Sim, há muito a ser feito e esse processo de retomada deve se estender por um bom tempo. Será preciso resistir e prosseguir na luta.
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