Saúde

Cigarro eletrônico na academia? Entenda os riscos de dispositivo “vitamínico” para a saúde

O pneumologista do Hospital Sírio-Libanês afirma que os produtos são potencialmente perigosos mesmo sem a presença de nicotina

01/02/2023

Um vídeo que circula na internet divulga um pod, um tipo de dispositivo eletrônico para fumar, supostamente destinado a aumentar a disposição e performance em atividades físicas.

De acordo com a propaganda, o chamado Pod Iz é um concentrado vitamínico sem nicotina cuja absorção dos nutrientes acontece pela mucosa a partir da inalação do vapor.

Especialistas consultados pela CNN alertam que a utilização de produtos como pods, vapes e cigarros eletrônicos apresentam riscos à saúde.

“O problema de produtos inalados é que geralmente tem um diluente que não conhecemos direito os efeitos para o pulmão. A mucosa pulmonar não foi feita para a absorção dessas substâncias. Os alvéolos, que contam com uma estrutura super sensível, foram feitos para fazer para trocas gasosas. O alvéolo capilar e o interstício, que é aquela camada que sustenta o alvéolo capilar, são estruturas muito delicadas que não foram desenhadas para absorção de fumaça, muito menos de algum suplemento dissolvido nessa fumaça”, afirma o médico pneumologista André Nathan, do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo.

A propaganda foi disponibilizada em rede social de um perfil chamado “Iz Health Pod”. No entanto, as buscas pelas páginas da empresa no Tik Tok e no Instagram não apresentaram resultados nesta terça-feira (30). A página do Facebook conta com um número de WhatsApp para compra online.

O produto é vendido online pela “Nostro Fumo Curitiba”, nome fantasia da empresa CBAR Comércio de Produtos Alimentícios. A CNN entrou em contato com a empresa e aguarda retorno.

“Aqui está o segredo para manter a alta performance no dia a dia. Com o power, você garante a energia necessária para realizar as mais variadas tarefas, sem danos à saúde e com sabor de hortelã cítrica que deixa ainda mais gostoso. Manter a intensidade fará você ter dias mais produtivos e, a longo prazo, percebe que as vantagens são ainda melhores. Os Pods Iz são concentrados vitamínicos elaborados para o dia a dia nos quais não há adição de nicotina e absorção de nutrientes é feita pela mucosa e na inalação do vapor produzido a baixa temperatura – ou seja: diversos benefícios em um único produto”, diz a propaganda (veja acima).

O pneumologista do Hospital Sírio-Libanês afirma que os produtos são potencialmente perigosos mesmo sem a presença de nicotina.

“Não há trabalho mostrando a segurança e mesmo eficácia dessas substâncias absorvidas pelo pulmão. Muito menos dos possíveis efeitos danosos. Por isso, mesmo não contendo a nicotina, esses produtos são potencialmente perigosos. O problema da nicotina é que quando você entra em contato com a substância, quando absorve, você fica viciado. Essas substâncias que não têm nicotina podem não te deixar viciado, mas ainda assim você está expondo as células e a mucosa do pulmão, que é extremamente delicada, a substâncias e vapores que não conhecemos a segurança“, alerta.

O especialista orienta que uma das maneiras saudáveis de potencializar o exercício físico é manter uma alimentação saudável.

“Não faz sentido você querer inalar vitaminas se você pode ter uma alimentação saudável. Você pode buscar uma nutricionista, um nutrólogo ou um clínico para avaliar se houver alguma necessidade de suplementação clínica, mas isso em geral não é necessário. Então, o ponto é uma alimentação saudável, já tem a quantidade suficiente de vitaminas, sais minerais ou qualquer outro tipo de substância energética que nosso corpo necessite, então não faz sentido deixar de se alimentar direito e tentar suplementar isso através da superfície do pulmão”, destaca.

A praticidade e aparência tecnológica do cigarro eletrônico tem sido atrativos especialmente entre os jovens. No entanto, o cigarro eletrônico pode provocar consequências tão nocivas quanto o cigarro comum, incluindo doenças pulmonares e cardiovasculares e câncer.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os dispositivos eletrônicos não são seguros e possuem substâncias tóxicas além da nicotina. O cigarro eletrônico pode causar doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar, doenças cardiovasculares, dermatite e câncer.

“Ele tem substâncias que atuam no tecido cerebral, uma delas acaba sendo também a nicotina, entre outras. Nós sabemos que quando você interfere no funcionamento das sinapses, que são comunicações que existem entre os neurônios, você pode deflagrar determinada liberação de neurotransmissores como por exemplo dopamina e, com isso, você tem uma sensação agradável naquele momento”, afirma o médico neurocirurgião Fernando Gomes, professor livre-docente do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Proibição pela Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe formalmente o comércio e importação de qualquer dispositivo eletrônico de fumar, popularmente conhecidos como cigarros eletrônicos, e-cigarretes, e-ciggy e ecigar, entre outros.

A proibição atinge especialmente os produtos que se apresentam como alternativa ao tratamento do tabagismo. O cigarro eletrônico nunca teve registro no país.

Consultada pela CNN, a Anvisa afirmou que a resolução RDC 46/2009, que proíbe os dispositivos eletrônicos para fumar, se aplica para quaisquer acessórios e refis destinados ao uso em qualquer dispositivo.

“É importante destacar que se desconhece o perfil de toxicidade das substâncias empregadas nos dispositivos em questão considerando a utilização por meio de vaporização. No mesmo sentido, não é possível a apresentação de vitaminas na forma de vaporizadores. Diante do exposto, o produto não pode ser comercializado como suplemento alimentar”, diz a nota da Anvisa.

“As formas farmacêuticas que podem ser utilizadas em suplementos alimentares são aquelas destinadas à administração e ingestão oral, ou seja, pela boca. Os suplementos podem ser ser sólidas, semissólidas ou líquidas, como cápsulas, comprimidos, líquidos, pós, barras, géis, pastilhas, gomas de mascar, etc”, prossegue a agência.

Em 2022, após uma consulta pública, que contou com a participação de órgãos de defesa do consumidor, a Anvisa decidiu pela proibição do produto. A medida abrange ainda acessórios e refis destinados ao uso nos dispositivos, assim como a propaganda, a publicidade e a promoção, inclusive na Internet, desses produtos.

 

Conteúdo original publicado por CNN

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