Pesquisa revela potencial catarinense para produzir café especial
A cafeicultura já foi uma atividade de expressão econômica em Santa Catarina, inclusive na região de Jaraguá do Sul, onde décadas passadas o grão era cultivado
26/02/2021
Há gerações, cafezais crescem no Leste de Santa Catarina sob a sombra da Mata Atlântica ou de outros cultivos agrícolas. Um conhecimento de famílias agricultoras que optaram pela convivência harmoniosa da natureza com o cultivo do grão, que vai dar origem a um café especial, com alto apelo econômico e ambiental. Um estudo comprovou que o café arábica variedade mundo novo, produzido sob a sombra de bananais orgânicos em Araquari, se enquadra como café especial excelente.
A pesquisa foi realizada por profissionais da Epagri em parceria com o Instituto Federal Catarinense (IFC) – campus Araquari e com o Instituto Federal do Sul de Minas – campus de Machado. O levantamento concluiu ainda que Santa Catarina possui áreas com condições climáticas potencialmente aptas para o cultivo de café arábica especial, considerando a colheita seletiva e adequado processamento pós-colheita para explorar a máxima qualidade sensorial e evitar defeitos físicos nos grãos.
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Por fim, a pesquisa apontou a necessidade de mais estudos, tanto sobre a adaptabilidade ao grão ao litoral catarinense, como do manejo de cultivo e pós-colheita. Wilian Ricce e Fábio Zambonim, pesquisadores da Epagri/Ciram, delimitaram o mapa com a região potencialmente apta, de acordo com o clima, para o cultivo de café arábica em Santa Catarina.
“Queremos mostrar o potencial que o café especial arábica tem na região litorânea de Santa Catarina. Cultivado em sistemas agroflorestais, ele pode ser usado como estratégias de restauração e uso econômico de áreas de preservação permanente nas propriedades rurais familiares”, descreve Zambonim.
Pesquisadores delimitaram mapa com regiões potencialmente aptas
A cafeicultura já foi uma atividade de expressão econômica em Santa Catarina, inclusive na região de Jaraguá do Sul, onde décadas passadas o grão era cultivado. Não raro, ainda é possível encontrar pés remanescentes, que mesmo sem os cuidados, ainda produzem em alguns quintais e áreas aos fundos dos terrenos.
A família Brugnago, por meio dos pais do jornalista Flávio José, do JDV, no bairro Vila Nova, produzia café que era vendido às torrefadoras locais há décadas passadas. Mutirões eram feitos para a colheita, como lembram pessoas mais vividas e que tinham na família a referência no cultivo e na colheita.
Anita Brugnago Buzzi lembra que quando criança ajudava na colheita do café. “Tínhamos muitos pés no meio do mato, eram altos e carregavam bastante. Uma vez a nossa mãe disse que de uma única vez foi entregue 80 sacos para o Café Bauer, que comprava a nossa produção”, observou. Muitas famílias ainda cultivam esse hábito de ter o próprio café, fazem a secagem natural, a torra e posteriormente a moagem, alguns utilizando ainda o velho e bom pilão.
O cenário mudou na década de 1960, como resultado de uma política pública nacional de erradicação de cafezais para regulação dos estoques mundiais do grão. A partir daí a produção de café no Leste catarinense migrou do status comercial para uma cultura de subsistência.
No entanto, levantamento realizado pelo IBGE em 2017 mostrou que pequenos cultivos isolados se mantiveram em 15 municípios de Sul a Norte da costa catarinense, evidenciando a adaptabilidade da cultura às condições de clima e relevo da região.
O sistema de produção e de colheita adotado na região produtora de café no Estado foi o diferencial que garantiu a qualidade do produto catarinense quando era produzido em escala comercial. Os pesquisadores explicam que, cultivado preferencialmente sob a sombra de espécies arbóreas da Floresta Atlântica, o café arábica se adaptou e se desenvolveu muito bem no litoral do Estado.
Por outro lado, a colheita dos frutos, realizada predominantemente de forma seletiva e escalonada ao longo da safra, garantia que os frutos fossem coletados no ponto ideal de maturação. A atividade é trabalhosa e onerosa, porém viável no contexto típico das propriedades rurais familiares.
Bananicultores de Corupá participam do resgate da cafeicultura
A Associação dos Bananicultores de Corupá (Asbanco), idealizadora do projeto de Indicação Geográfica (IG) de Denominação de Origem (DO), da Região de Corupá como produtora da Banana Mais Doce do Brasil, agora vislumbra o potencial econômico de cafés especiais, sombreado pelas lavouras de banana, principal atividade econômica do município.
“Corupá é uma região rica em história e nossos agricultores mantém a tradição do cultivo de café para consumo da família há mais de 80 anos. Não imaginávamos que nosso café teria os atributos e seria classificado como café especial, o que muito nos orgulha”, comenta Eliane Cristina Müller, diretora administrativa da Asbanco.
O agricultor Guido Tandeck, primeiro em Corupá a participar do projeto de resgate da cafeicultura desenvolvido pelo IFC – Araquari, relata que em sua casa nunca se comprou café no mercado, sempre se consumiu a produção própria. “Depois de colher, secamos os grãos no sótão da casa e deixamos descansar por um ano para depois torrar e moer, tradição que aprendi com meus pais e hoje repasso para meu filho. Nunca imaginei que poderia ser especial, para nós era só café”, relata, admirado.
Amostras recentes de café procedentes de vários municípios, como Araquari, Itapema e Corupá, e que foram beneficiadas pelos próprios agricultores, também revelaram pontuação de cafés especiais de muito boa qualidade, entre 81 e 84,17 pontos.
Dependendo da procedência da amostra e seus atributos sensoriais, os descritores encontraram diferentes características de aroma e sabor entre os cafés catarinenses, entre elas: caramelo, chocolate, doce, ácido cítrico, frutado e verde, o que confirma a diversidade da cultura em SC.
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