ADEMAR DUWE- Morte de líder político e comunitário enluta Jaraguá
Em outubro de 2017, o JDV publicou uma entrevista exclusiva que serviu de referência para o cronológico da sua vida.
12/03/2021
Jaraguá do Sul se despediu ontem, 11 de março, de Ademar Frederico Duwe, falecido na madrugada, aos 83 anos. Vice-prefeito e prefeito em exercício, deputado constituinte e deputado estadual, secretário de Estado do Meio Ambiente, empresário, desportista, um dos idealizadores da Schützenfest e presidente de honra da maior festa de atiradores do Brasil.
O corpo de Duwe foi velado na Capela Maria Leier entre 10h e 16h30min e baixado à sepultura no jazigo da família, no Rio da Luz II, onde estão sepultados, também, a mulher Ingrid Kreutzfeld Duwe e o seu filho mais novo, Dieter. Ele estava internado, mas a causa morte não foi Covid.
Em outubro de 2017, o JDV publicou uma entrevista exclusiva que serviu de referência para o cronológico da sua vida. A entrevista é um registro para a posteridade, que reproduzimos.
A história da primeira Schützenfest (Festa do Tiro) que vai para a sua 29ª edição em novembro (9 a 19) remonta ao ano de 1980. Uma festa que reunisse todas as sociedades de tiro da região do Vale do Itapocu e nunca antes imaginada, já era assunto de conversas entre dois amigos: Ademar Duwe e Norberto Barg, que presidia a Sociedade Rio da Luz, hoje Associação. Foi quando Duwe decidiu ir à Munique-Alemanha, conhecer a Oktoberfest daquele país até hoje sem similar no mundo. Na volta estava ainda mais convencido de que, guardadas as proporções, a festa aqui daria certo. Oito anos depois, quando já era deputado estadual e às vésperas de uma campanha política, aceitou ser candidato a vice-prefeito na chapa de Ivo Konell. Mas impôs uma condição: se eleitos, a Prefeitura faria a festa.
Um trabalho de convencimento
Com a chapa eleita, várias reuniões ocorreram com secretários do novo governo, alguns reticentes quanto a viabilidade da proposta. Foi, então, que Duwe e Barg de novo inovaram, montando uma “festa fantasia, uma simulação daquilo que se pretendia”, lembra Duwe. O lugar escolhido foi a residência de outro amigo, Alfredo Rahn, na localidade de Rio da Luz. “Era uma casa em estilo enxaimel. Todas as mesas e janelas foram decoradas com toalhas e cortinas em tecidos de xadrez. Não houve baile, mas mostramos para as autoridades e convidados o que era um desfile de busca ao rei do tiro, com participação da famosa Banda Aurora. Com muita cerveja, chope e comida, a ideia foi viabilizada”, relata Duwe.
Sucesso de público e chope
Em 18 de março de 1989 a festa estava oficialmente criada, com o aval do prefeito Ivo Konell. A primeira edição, com duração de 10 dias, teve participação de 26 sociedades. Mas em uma estrutura precária, de galpões originalmente destinados a exposição de gado e produtos agrícolas. Era o “agropecuário”, assim chamado pela população. “A expectativa era a de reunir público de 10 mil pessoas, mas passamos de 18 mil. Só de chope foram 50 mil litros, o que deu credibilidade aqueles que estavam desconfiados quanto a vendas. Ora, cerveja e chope fazem parte da tradição germânica e nada mais natural que o consumo fosse alto”, recorda Duwe.
O “hino” da Schützenfest
Em parceria com a organização da Oktoberfest, a Schützenfest passou a receber, também, bandas alemãs. Duwe voltou à Alemanha, precisamente à pequena cidade de Spandau, região de Berlim, onde ainda existe a mais antiga sociedade de tiro do mundo fundada em 1332. “O primeiro prédio resistiu aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e está de pé, até hoje”, disse o empresário. Lá manteve contato com a Banda Die Mottener, cujos componentes compuseram a música que se tornou uma espécie de hino da Schützenfest: “Wier Gehn Zum Schützenfest Nach Jaraguá”. Traduzindo, “nós vamos para a festa do rei em Jaraguá”. Vinte e oito anos se passaram e, hoje, em instalações bem mais confortáveis e com organização que dá tranquilidade aos visitantes, a festa vem mantendo média de 70 mil visitantes por edição, Mas, há uma expectativa de crescimento com a mudança da festa para novembro, fugindo da forte concorrência de outubro proporcionada pela Oktoberfest (Blumenau), Marejada (Itajaí) e Fenarreco (Brusque) em outubro.
Obras de saneamento básico
Ademar Duwe foi o primeiro cidadão de Jaraguá do Sul a assumir uma secretaria no governo do Estado. Na gestão de Pedro Ivo Figueiredo de Campos (1987/1990) comandou a pasta do Trabalho e Desenvolvimento Social por alguns meses. Deputado estadual Constituinte, em 1988, Duwe também assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente por um ano e seis meses. Foi quando a primeira obra da rede de esgoto sanitário de Jaraguá do Sul saiu do papel no Bairro Água Verde. “O então ministro do Planejamento, José Serra (governo de Fernando Henrique Cardoso) me nomeou presidente em Santa Catarina do Conselho do Programa de Saneamento de Águas Residuais, o Prosanear. Para o Estado foram disponibilizados R$ 45 milhões, dos quais RS 12 milhões liberamos para Jaraguá do Sul no governo de Geraldo Werninghaus. O presidente do Samae era o Nelson Klitzke”, contou Duwe, que também foi secretário titular da Casa Civil (governo do Estado) e presidente do Conselho de Administração da Celesc.
Asfalto no Rio da Luz
Numa rara visita de Pedro Ivo Campos a Jaraguá do Sul, quando foi recepcionado por centenas de pessoas no Rio da Luz, ainda com estrada de acesso toda em chão de terra até Pomerode, a obra de asfaltamento da rodovia estadual a partir da Malwee foi viabilizada. Avesso a promessas, Campos foi informado sobre a importância econômica da rodovia diante do vistoso crescimento da região. “Mas, quando toquei no assunto ele quase voltou dali mesmo”, recorda Duwe. Finalmente, em janeiro de 1991 a obra foi inaugurada, mas sem a presença de Campos, que morreu no segundo ano de seu mandato vítima de câncer, aos 59 anos de idade. À solenidade veio Casildo Maldaner, o vice-governador que, depois de alguns meses no comando interino do Estado, havia assumido oficialmente o cargo. “O bom é ver que a festa continua, gerando empregos e renda extra, os altos investimentos do Samae em saneamento básico não param e a rodovia, agora revitalizada, segue na sua função social e econômica”, concluiu Duwe.
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