Sônia Pillon é jornalista e escritora, formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Integra a AJEB Santa Catarina. Fundadora da ALBSC Jaraguá do Sul.
Coluna: A odiada da vez
O “pacote de maldades” que o Brasil está assistindo no reality show remete à “Malévola”, ou às vilãs da ficção, como a Carminha, da “Avenida Brasil”, ou a Odete Roitman, de “Vale Tudo”, com a diferença de que não se trata de uma novela.
14/02/2021
Por Sônia Pillon
Em primeiro lugar, não assisto reality show. Respeito os que apreciam esse gênero de entretenimento, porém prefiro outras alternativas. Maratonar uma série empolgante, ou assistir um filme na plataforma de streaming está entre as minhas preferências.
Aliás, ultimamente, estou pendendo mais para as produções britânicas e filmes estrangeiros, pela narrativa diferenciada e por agregar conhecimento.
Mas voltando ao tema, é inevitável “acompanhar” o reality em andamento quando recebemos as notícias que estão bombando na internet. E especialmente nessa edição, pelo jeito a instabilidade emocional invadiu a casa dos confinados de forma desproporcional.
Nesse cenário, as atenções estão se voltando especialmente para o comportamento da rapper que até então fazia sucesso empunhando a bandeira da igualdade, diversidade e inclusão. Esse discurso foi totalmente desconstruído com as atitudes agressivas, arrogantes, discriminatórias, injustas e desleais protagonizadas por ela.
Ou seja, a “celebridade” em questão está distribuindo maldades: um pacote de maldades.
Além de manipular os “amigos” da casa, promove uma espécie de segregação racial às avessas. Como se o fato de ser negra e de já ter se sentido discriminada, por si só, justificasse a rejeição a mulheres que não se encaixam nesse perfil, por supostamente as considerar “privilegiadas”.
Se todos pensassem assim, não haveria miscigenação por aqui. Aliás, a riqueza cultural brasileira está calcada na pluralidade dos povos que aqui habitam, no fascinante mosaico colorido que forma esse país.
A influenciadora (ou manipuladora?) comanda uma espécie de “Núcleo do Ódio”, em que os competidores que estão fora da “panelinha” são tratados como inimigos.
Ela encarna o estereótipo da vilã clássica, remete à “Malévola”, ou às personagens femininas que marcaram a teledramaturgia brasileira, como a Carminha, da “Avenida Brasil”, ou a Odete Roitman, de “Vale Tudo”. A diferença é que não estamos assistindo uma novela, mas sim, um jogo em que o ganhador receberá R$ 1,5 milhão.
Vale salientar aqui que a luta pelos direitos das mulheres independe da cor da pele e precisa avançar através da união, do respeito, solidariedade e empatia entre elas.
Essa é uma lição que ainda precisa ser assimilada: buscar na sororidade a força para impulsionar as mulheres na transformação social, garantindo não somente o cumprimento dos direitos, mas ampliando o espaço conquistado até aqui.
Com tanta insensibilidade e arbitrariedades cometidas, do lado de fora do reality a repercussão negativa já está refletindo na quebra de contratos e de patrocínios para a artista, a odiada da vez…
É, Karol Concá, o que se colhe depende da semente que se planta…
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