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ARTIGO DO LEITOR

Não… Definitivamente calar não é consentir… Principalmente quando o companheiro é um agressor. Por vezes a vítima já está tão abalada emocionalmente que ela nem tem mais forças para argumentar o que quer que seja nem muito menos para…

10/10/2019

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Nem consentir, nem calar

Não… Definitivamente calar não é consentir… Principalmente quando o companheiro é um agressor. Por vezes a vítima já está tão abalada emocionalmente que ela nem tem mais forças para argumentar o que quer que seja nem muito menos para lutar por seus direitos. E nos parece muito estranho quando um colunista de um jornal local, alguém inclusive com formação superior na área de humanas, demonstra não ter noção do que acontece com a vítima de violência doméstica, que aprisiona reféns em prol do seu bel-prazer, ou seria alguém desta naipe um sonso (pessoa que se faz de simplória)? São seres alienados e muito infelizes quando, ao invés de ajudar, já que supostamente detêm algum conhecimento, se põem na condição de julgar vítimas já tão sofridas. Não, não podemos nos calar diante deles!

Mesmo que as vítimas se sujeitem a passar por agressões (quer sejam verbais, físicas e até sexuais) por estarem na situação usufruindo de algum benefício, por mais que seja incabível para quem nunca passou nem precisa passar por isso, há todo um contexto histórico e cultural no que diz respeito ao grupo de vítimas e também um contexto pessoal, que deveria ser analisado por alguém que tem o poder de influenciar pessoas, antes deste se manifestar. A submissão das mulheres aos homens é um comportamento muito antigo e desconstruí-lo leva tempo. Não basta apenas à mulher empoderar-se. É preciso que a sociedade desperte sua consciência humanitária, que perceba e respeite as fragilidades, as diferenças e reconheça o valor de cada indivíduo.

E é tão triste ver alguém se manifestar como se elas merecessem sofrer, sofrer ainda mais! Neste contexto onde se põe em cheque a dignidade das vítimas, é bom explicarmos que dignidade significa muitas coisas: qualidade moral que infunde respeito; consciência do próprio valor; honra, autoridade, nobreza… Será que todas as mulheres têm consciência do seu valor? Será que elas não se sentem desvalorizadas desde pequenas? Cada uma tem uma história e muitas vezes as vítimas carregam consigo desde crianças uma história muito triste. Talvez o emaranhado e a demanda emocional com a qual elas tenham que lidar desde muito cedo seja enormemente difícil e pesado e elas nem mesmo consigam enxergar qualquer valor em si.

E é aí que entra o Coletivo Feminino de Jaraguá do Sul e Região, que busca também ajudar na recuperação emocional de quem não teve suas fragilidades respeitadas, para que elas tenham força novamente e consigam respeitar a si mesmas, exigindo também o devido respeito de quem porventura anda delirando que é mais do que elas… ou que elas são menos. Concordamos sim, que os pais devam ensinar às filhas a não aturarem nenhum tipo de desaforo e, mais do que ensinar, devem dar o carinho que toda criança precisa e, desta forma, estarão ensinando o tratamento que elas devem querer durante toda a vida delas, mas falar que uma mulher vítima de agressão é nojenta e não merece respeito, calma lá! Um absurdo desses é que não merece respeito, muito pelo contrário, merece a nossa mais profunda indignação.

Josimeri de Souza Coelho – Coordenadora do Coletivo Feminino de Jaraguá do Sul e Região

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